A VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES GESTANTES ATENDIDAS NAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE DA ZONA LESTE DO MUNICÍPIO DE PORTO VELHO - RO

Marcuce Antonio Miranda dos Santos – Universidade Federal de Rondônia e Ministério da Saúde – UNIR/MS

marcuceunir@yahoo.com.br

Beatriz Moura Lima – Universidade Federal de Rondônia e Ministério da Saúde – UNIR/MS.

Thalita Baratela Loss – Universidade Federal de Rondônia e Ministério da Saúde – UNIR/MS.

Kátia Fernanda Alves Moreira – Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Rondônia – UNIR.

Maria Inês Ferreira de Miranda - Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Rondônia – UNIR.

 

Introdução: Há anos que a violência vem sendo considerada uma das causas mais importante de mortalidade no Brasil e no mundo, além de comprovadamente provocar doenças e alterações orgânicas e emocionais (1). Dado o ineditismo desta proposta para a realidade local, entendemos que este estudo tem uma elevada relevância para a saúde pública do Estado de Rondônia, reconhecida por uma consciência cada vez mais aguda das relações sistêmicas entre violência de gênero e violência social.

Objetivos: Investigaram-se os tipos de violência contra a mulher gestante na zona leste de Porto Velho, identificando o perfil destas mulheres e as principais causas de violência sofrida por elas, além de descrever se as mesmas, quando vítimas, informam aos profissionais de saúde sobre a violência sofrida.

Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo do tipo transversal, realizado em três unidades básicas de saúde de Porto Velho-RO. Os dados foram coletados através de um questionário, tendo como base parte dos itens do formulário “Abuse Assessment Screen – AAS”(2), e aplicado junto às mulheres gestantes. A pesquisa foi submetida à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade São Lucas, sendo aprovado pelo parecer nº 327/08.

Resultados: As mulheres pesquisadas formaram três subgrupos com algumas diferenças em proporção: adolescentes (12%), jovens de 20 a 24 anos (43,4%) e jovens de 25 a 29 anos (28%). Das 175 mulheres, n= 42 (24%) sofreram algum tipo de violência. Destas, 59,5% foram físicas e 40,4% foram psicológicas. Houve a existência de ocorrência de superposição entre casos de violência física e psicológica. Quanto à freqüência, 70,8% referiram agressão pelo menos uma vez e 60% das vítimas silenciaram a situação. Acerca dos motivos, 28,5% relataram por consumo de álcool/drogas pelo parceiro e 23,8% relataram por ciúme. Quanto à conduta frete a violência pelos profissionais de saúde, neste estudo nenhum profissional de saúde indagou as mulheres acerca da violência durante suas consultas de pré-natal. Percebeu-se neste estudo a ausência de relatos quanto à procura da unidade de saúde como forma de ajuda e apoio após o ato de violência sofrida.

Conclusão: Diante dos achados, percebe-se a necessidade de uma qualificação dos profissionais de saúde da rede básica de Porto Velho quanto ao manejo frente à violência contra a mulher. Através deste estudo, pretende-se contribuir para a formação de políticas públicas para a problemática da violência contra as mulheres gestantes, através de ações de educação em saúde sobre o tema, voltadas aos profissionais.

Bibliografia:

- Souza, ER, Minayo, MCS. O impacto da violência social na saúde pública do Brasil: década de 80. In: Minayo MCS (Org.). Os muitos brasis: saúde e população na década de 80. São Paulo/Rio de Janeiro: Hucitec/Abrasco, 1995. p. 87-116.

- Reichenheim, ME, Moraes, CL, Hasselmann, MH. Equivalência semântica da versão em português do instrumento Abuse Assessment Screen para rastreara violência contra a mulher grávida. Rev Saude Publica 2000; 34(6): 610-616.


 

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: A VISÃO DE MULHERES DE UMA MATERNIDADE

Ana Márcia Spanó Nakano - Enfermeira. Professora Associada Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo

nakano@eerp.usp.br

Angelina Lettiere - Enfermeira. Mestranda. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo

 

 

 

Introdução: Na complexidade do fenômeno da violência, encontra-se a violência contra a mulher que embora presente na maioria das sociedades, é frequentemente irreconhecível e socialmente aceita.

Objectivos: Compreender como as mulheres percebem o fenômeno da violência e qual a relação que estabelecem com o estado de saúde, particularmente, com o processo de gravidez, parto e puerpério e as condições de saúde do filho.

Metodologia: Pesquisa qualitativa. O universo empírico foi composto por 43 puérperas que receberam assistência ao parto, em uma maternidade filantrópica de baixo risco de Ribeirão Preto, no período de jan./2007 a abr./2007. Os dados foram coletados por entrevistas semi-estruturadas, para as quais se adotou a técnica de depoimento pessoal, analisado pela técnica de análise de conteúdo, modalidade temática2. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.

Resultados e discussão: Entre as mulheres entrevistadas, 13 relataram algum tipo de violência física, sexual e/ou psicológica, das quais seis ocorreram no período gestacional e sete em outra fase da vida. Em todos os casos o agressor foi o cônjuge. Depreendemos duas categorias temáticas centrais: Compreensão do fenômeno: caracterizam a violência contra a mulher como um problema presente na sociedade sendo o espaço social de ocorrência o âmbito doméstico. Os fatores que precipitam e mantêm a violência é o uso de álcool e drogas pelo parceiro. Repercussão da violência na saúde: há uma invisibilidade dos eventos violentos vivenciados pelas próprias mulheres, as quais naturalizam a violência, não reconhecendo os efeitos maléficos na sua saúde. Reconhecem os efeitos sobre a saúde dos filhos no comprometimento psico-emocional.

Considerações finais: Precisamos sensibilizar as mulheres em relação aos seus diretos, conscientizar sobre as questões de saúde reprodutiva, fortalecendo estratégias de empoderamento para mudar o cenário em que se encontram, considerando-as como sujeitos diferenciados na relação com os homens, rompendo com mitos e crenças.

Bibliografia:

- World Health Organization. WHO Multicountry study on women’s health and domestic violence against women. Geneva: World Health Organization; 2005.

- Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70;1977.


VIOLÊNCIA ENTRE NAMORADOS ADOLESCENTES NO BRASIL

Kathie Njaine; Simone Gonçalves de Assis; Maria Cecília de Souza Minayo; Queiti Batista Moreira Oliveira; Fernanda Mendes Lages Ribeiro -  Pesquisadoras - Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli/Escola Nacional de Saúde Pública/Fundação Oswaldo Cruz (CLAVES/ENSP/FIOCRUZ)

kathie@claves.fiocruz.br

 

Introdução: A pesquisa Violência entre namorados adolescentes: um estudo em dez capitais brasileiras realizou um diagnóstico sobre violência nos relacionamentos afetivo-sexuais entre adolescentes brasileiros.

Objetivo: Analisar contexto de violência nas relações afetivo-sexuais entre adolescentes de 10 cidades brasileiras a partir da investigação da magnitude do problema e das representações sociais, sob a ótica de gênero.

Metodologia: Estudo quanti-qualitativo. Adaptação Escala Conflict in Adolescent Dating Relationship Inventory. Abordagem quantitativa: inquérito epidemiológico, aplicação de questionários a alunos das escolas públicas e particulares - 3205 questionários analisados (adolescentes de 15 a 19 anos de 104 escolas) – utilizou-se o Programa Epi-info 6.0 para análises de freqüência simples e testes de qui-quadrado. Abordagem qualitativa: entrevistas em grupo e individuais com 519 adolescentes – utilizou-se a Análise de Conteúdo para análise.

Resultados: Praticamente 9 em cada 10 jovens praticam/sofrem variadas formas de violência. 86,8% são vitimas e 86,9% são agressores. Violência verbal:  85,3% perpetraram e 85% foram vítimas. Meninas são mais vítimas e mais agressoras. Violência sexual: 38,9% perpetraram e 43,8% foram vítimas. Mais rapazes (49%) relataram praticar do que as meninas (32,8%). Principais agressões: forçar a beijar e tocar sexualmente sem a permissão. Ameaça: 29,2% perpetraram e 24,2% foram vítimas; rapazes e moças informaram igualmente sofrer ameaças dos parceiros. Meninas ameaçam mais. Violência física: 24,1% perpetraram e 19,6% foram vítimas. Os rapazes (24,9%) informaram sofrer mais violência física do que as moças (16,5%). Moças informaram agredir mais seus parceiros. Violência relacional (virar os amigos contra a pessoa e espalhar boatos): 8,9% perpetraram e 16% foram vítimas. 

Jovem que sofre violência na comunidade é 2,43 vezes mais vítima de violência física na relação com seu parceiro amoroso. Grande maioria dos jovens diz ter sofrido agressão verbal da mãe (84,2%), garotas são maiores vítimas.  Idéias suicidas por causa de relacionamento amoroso foram relatadas por 19,3%.

Conclusão: Há necessidade de desenvolver estratégias de prevenção às formas de violência relatadas pelos jovens. Setor saúde tem papel fundamental nesse âmbito, frente às desigualdades sociais e vulnerabilidades às formas de violências, sobretudo a de gênero.

Bibliografia:

- WOLFE, D. A. et al. Development and validation of the conflict in adolescent 
dating relationships inventory. Psychological Assessment, Washington, v. 13, 
p. 277-293,2001.

- WYNDOL, F., WEHNER, E. A. Adolescent romantic relationships: A developmental 
perspective. New Directions for Child and Adolescent Development, [S.l], v. 
1997, n. 78, p. 21-36, Winter 1997.

- TAQUETTE, S.R. et al. Relacionamento violento na adolescência e risco de 
DST/AIDS. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, p. 1437-1444, 
2003.

- SCHRAIBER, L. B. et al. Prevalência da violência contra a mulher por 
parceiro íntimo em regiões do Brasil. Revista de Saúde Pública, São Paulo, 
v. 41, n. 5, p. 797-807, 2007.

- REICHENHEIM, M.E. et al. The magnitude of intimate partner violence in 
Brazil: portraits from 15 capital cities and the Federal District.
Cadernos 
de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.22, n. 2, p.425-437, 2006.

- ANACLETO, A.J. et al. Prevalência e fatores associados à violência entre 
parceiros íntimos: um estudo de base populacional em Lages, Santa Catarina. 
Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 25, n. 4, p.800-808, 2009.

- ASSIS, S. G.; AVANCI, J.Q. Labirinto de espelhos: a formação da auto-estima 
na infância e adolescência. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2004.


 

  

O ABUSO SEXUAL DA CRIANÇA E A ASSIMETRIA NAS REPRESENTAÇÕES DO GÉNERO

Filomena Santos - Universidade da Beira Interior

namesantos@sapo.pt

 

Introdução e justificação: O entendimento da complexidade dos processos relacionados com a violência e os maus-tratos de crianças e jovens em contexto intrafamiliar desafia instituições, terapeutas e profissionais de diferentes áreas a desenvolverem as suas técnicas e formas de abordagem, num trabalho que se pretende cada vez mais em rede, integrado e multidisciplinar.

Objectivos: A presente comunicação, após uma breve referência aos resultados obtidos a partir de uma tese de mestrado, centrar-se-á na análise qualitativa de um caso de abuso sexual de uma menor, em contexto intrafamiliar, de modo a mostrar como os estereótipos sexuais e a assimetria nas representações do género (Amâncio, 1994), influenciam a percepção e o trabalho dos técnicos chamados a intervir nestas situações.

Metodologia: A informação recolhida, com base nos relatórios e processos instaurados pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens da Covilhã, foi analisada de forma qualitativa.

Resultados: Os casos seleccionados, no trabalho de investigação referido, constituem exemplos ilustrativos de várias modalidades de violência e maus-tratos – agressão física, abuso psicológico-emocional, exposição prolongada à violência conjugal, abuso e assédio sexual. Todos eles têm como denominador comum a violência de género cruzada com variáveis de desfavorecimento social que, de uma maneira geral, caracterizam as famílias alvo da intervenção da CPCJ. Nas famílias observadas a violência doméstica assume fundamentalmente a forma de violência de género, praticada contra as mulheres (mães, filhas, enteadas, sobrinhas), quer se trate de abuso físico, emocional ou sexual. São geralmente os homens os agressores (pais, tios, padrastos) e as mulheres e as crianças do sexo feminino as principais vítimas. A descoberta de conexões significativas entre tipos de maus-tratos e determinadas dinâmicas ou situações familiares, em contextos desfavorecidos, aponta para a existência de um padrão familiar que junta e interliga o alcoolismo do homem, a violência conjugal e a dependência económica da mulher em algumas situações de maus-tratos às crianças e jovens. Numa abordagem relacional da família (Santos, 2007; Wall, 2005), que tem em conta as interacções, os afectos e as dinâmicas que aí têm lugar, bem como a existência de sub-grupos, é preferível falar em «relações disfuncionais» em vez de «famílias disfuncionais».

Conclusões: As crianças mais velhas, do sexo feminino, são mais vulneráveis à descriminação de género, estando sujeitas a julgamentos negativos em caso de abuso sexual; consideradas «provocadoras», passam de vítimas a responsáveis pelo abuso.

Bibliografia:

- Almeida, Ana Nunes, Isabel M. André e Helena N. de Almeida (1999), Sombras e Marcas: os maus-tratos às crianças na família. Análise social, 150: 91-121.

- Almeida, Miguel Vale (1995), Senhores de Si. Uma interpretação Antropológica da Masculinidade, Fim de Século Edições.

- Amâncio, Lígia (1994), Masculino e Feminino. A Construção Social da Diferença, Porto, Afrontamento.

- Casimiro, Cláudia (2004), Representações Sociais de violência conjugal. Análise Social, 163: 603-630.

- Dias, Isabel (2004), Violência na Família: Uma abordagem sociológica. Porto, Afrontamento.

- Furniss, T. (1993), Abuso Sexual da Criança – uma Abordagem Multidisciplinar, Grafline, Porto Alegre, Brasil

- Marta Almeida (2007), A (in) visibilidade das Crianças em perigo. Intervenção das Comissões de Protecção de Crianças e Jovens. Tese (Doutoramento em Sociologia) – Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa. Policopiado.

- Pais, Elza (1998), Homicídio Conjugal em Portugal – Rupturas violentas da conjugalidade, Lisboa, Hugin Editores

- Santos, Filomena (2007) “A dominância simbólica do masculino e o modelo da assimetria nas representações do género” [121-127] in Sem Cerimónia nem papéis – um estudo sobre as uniões de facto em Portugal. Tese de Doutoramento em Sociologia da Família. Policopiado

- Santos, Filomena (1995), Infidelidade Conjugal – Classe Social e Género, Tese de Mestrado, Lisboa, ISCTE. Policopiado.

-Wall, Karin (org.) (2005), Famílias em Portugal, Lisboa, Imprensa das Ciências Sociais/Instituto de Ciências Sociais.

- Zélia Barroso (2007), Violência nas Relações Amorosas, Lisboa, Edições Colibri/SociNova.


“VIOLÊNCIA FEMININA: A FACE OCULTA DA VIOLÊNCIA NO CASAL”

Cláudia Casimiro - CIES / ISCTE – IUL - Centro de Investigação e Estudos de Sociologia, Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – Instituto Universitário de Lisboa

ccasim@gmail.com

 

Introdução e justificação do tema: A problemática da violência no casal, como o próprio termo “casal” implica, tem duas faces. Porém, e sem colocar em causa o fenómeno das mulheres agredidas pelo cônjuge e a preocupação social que em seu redor se ergue, o lado masculino da questão, como alvo de violência, é sempre, ou quase sempre, ignorado. Poucos são os estudos científicos na área das ciências sociais e humanas, em particular no seio da sociologia da família, que abordem a temática da violência feminina. Em Portugal, muito especificamente, este tem sido, até agora, um tema negligenciado, um tema tabu.

Objectivos: Partindo de uma dissertação de doutoramento realizada no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, sobre violências na conjugalidade, os objectivos desta comunicação são o de fornecer dados empíricos sobre a natureza, os modos, as modalidades e as formas de violência feminina e o de apontar factores explicativos para o silêncio em torno das violências praticadas pelas mulheres.

Metodologia: Neste estudo foi usada uma metodologia qualitativa. A investigadora realizou 49 entrevistas em profundidade e semi-directivas a 49 indivíduos de meios sociais favorecidos (23 mulheres e 26 homens), residentes na área metropolitana de Lisboa, casados e divorciados, com idades compreendidas entre os 26 e os 63 anos (trata-se de uma mostra não-probabilística). As entrevistas foram transcritas na íntegra e o método de análise de dados escolhido foi o da análise de conteúdo.

Resultados: Os resultados mostram que é fundamental distinguir claramente dois tipos de violência feminina: uma reactiva ou defensiva (exercida de forma directa e com uma dimensão física acentuada) e outra pró-activa ou ofensiva (praticada de forma indirecta e recorrendo principalmente a estratégias psicológicas: humilhação, manipulação emocional, chantagem, controlo e dominação). Mulheres e homens concebem a ocorrência de violência feminina na conjugalidade mas as primeiras negam o seu estatuto de agressora e os segundos não se revêem como vítimas.

Conclusões: Desmistificam-se com esta investigação alguns dos estereótipos em torno da passividade feminina e do seu modo não violento de (inter)agir e conclui-se que as repercussões do ethos patriarcal fazem-se sentir não apenas sobre as mulheres mas também sobre os homens. O sistema patriarcal influencia a ocorrência e a prevalência tanto dos abusos sobre as mulheres como sobre os homens operando através da noção de que “os homens não devem ser vítimas”. O patriarcado dificulta aos homens a denúncia e o reconhecimento dos abusos que sobre si são praticados. É este também o motivo que os impede ou desmotiva a assumirem-se frontalmente como vítimas de violência conjugal.

Bibliografia: Referências bibliográficas de teor académico, nacionais e internacionais (livros, artigos de revistas científicas, comunicações apresentadas em congressos e seminários), sites da world wide web e artigos publicados em publicações não académicas nacionais e internacionais.


 

NEM TUDO É TÃO ÓBVIO QUANTO PARECE: REFLEXÕES SOBRE HOMENS, DROGAS E VIOLÊNCIA DE GÊNERO

Maristela de Melo Moraes – Instituto PAPAI (Brasil) e Universidade Autônoma de Barcelona (Espanha)

maristelammoraes@gmail.com

Benedito Medrado Dantas - Universidade Federal de Pernambuco e Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO).

Jorge Lyra - Instituto PAPAI (Brasil).

Edna Granja - Universidade Federal de Pernambuco (Brasil)

 

Introdução e justificação: A literatura científica ressalta forte associação entre os episódios de violência contra a mulher e o uso abusivo de drogas por parte dos “agressores” (Granja & Medrado, 2009). No Brasil, por exemplo, uma pesquisa da UNIFESP aontou que em quase metade dos casos de violência doméstica e familiar contra as mulheres (49,8%), o “agressor” havia consumido álcool (Fonseca et al, 2009).

Objectivos: Este trabalho visa problematizar a freqüente associação entre o uso de drogas e a violência de gênero.

Metodologia: Tem por base empírica: 1) diálogos com homens denunciados por violência conjugal e 2) observação participante em debates voltados à formulação de políticas públicas de saúde do homem, no Brasil, em nível local e nacional.

Resultados: Contudo, nossas análises, evidenciam um jogo simbólico contraditório: se a violência de gênero passou a ser mais progressivamente definida e institucionalmente operada como violação dos direitos humanos, a associação entre masculinidade e uso de drogas foi pouco problematizada. Estudos têm descrito o consumo de drogas como um valor associado à socialização masculina, seja como passagem à vida adulta ou como prova de masculinidade (Nascimento, 1999; Acioli, 2002; Franch, 2004; Moraes, 2008; Granja & Medrado, 2009).

Conclusões: Tal contradição é invisível pela ausência de olhar de género sobre os homens, seja em sua condição de usuários de drogas (Moraes, 2009) seja como autores de violência (Granja & Medrado, 2009), diante das políticas públicas de saúde no Brasil. Tal abordagem resulta em intervenções ineficazes e na necessidade de novas construções teóricas e políticas que resgatem o caráter plural, polissêmico e crítico das leituras feministas (Medrado & Lyra, 2008).

Bibliografia:

- ACIOLI, DUARTE MOABI (2002). O processo de alcoolização entre os Pankararu: um estudo em Etnoepidemiologia. Campinas, Tese-Doutorado, Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciências Médicas.

- FONSECA, Arilton Martins; GALDURóZ, José Carlos Fernandes; TONDOWSKI, Cláudia Silveira and NOTO, Ana Regina. Padrões de violência domiciliar associada ao uso de álcool no Brasil. Rev. Saúde Pública [online]. 2009, vol.43, n.5 ISSN 0034-8910. Similarity:0.334240.

- FRANCH, Monica. (2004) Um brinde à vida: reflexões sobre violência, juventude e redução de danos no Brasil. In: BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Álcool e redução de danos: uma abordagem inovadora para países em transição. Brasília: Ministério da Saúde. 49-71.

- GRANJA, Edna and MEDRADO, Benedito. Homens, violência de gênero e atenção integral em saúde. Psicol. Soc. [online]. 2009, vol.21, n.1, pp. 25-34. ISSN 0102-7182. doi: 10.1590/S0102-71822009000100004.

- MORAES, Maristela (2008). O modelo de atenção integral à saúde para tratamento de problemas decorrentes do uso de álcool e outras drogas: percepções de usuários, acompanhantes e profissionais. Revista Ciência e Saúde Coletiva. 13 (1) 121-133.

- MORAES, Maristela (2009). Uso de álcool entre homens: um olhar de gênero sobre políticas públicas de saúde do Brasil”. Anais da 5ª Conferencia Latina sobre Reducción de Daños (CLAT 5). Porto, Portugal.

- MEDRADO, Benedito e LYRA, Jorge. Por uma matriz feminista de gênero para os estudos sobre homens e masculinidades. Rev. Estud. Fem. [online]. 2008, vol.16, n.3, pp. 809-840. ISSN 0104-026X. doi: 10.1590/S0104-026X2008000300005.

- NASCIMENTO, Pedro. Guedes. (1999). “Ser homem ou nada”: diversidade de experiências e estratégias de atualização do modelo hegemônico de masculinidade em Camaragibe/PE. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-graduação em Antropologia,Universidade Federal de Pernambuco, Recife.


 

VIOLÊNCIA NA INTIMIDADE E DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL

José Manuel de Matos PintoEscola Superior de Enfermagem de Coimbra

jpinto@esenfc.pt

 

Introdução e justificação: No presente trabalho pretendemos relacionar a violência na intimidade e a motricidade considerada por Winnicott como a génese da violência. Esta proposta assenta no trabalho psicoterapêutico desenvolvido com pacientes e é suportado por exemplos clínicos clarificadores.

Objectivos: Perceber as relações existentes entre o predomínio do funcionamento sádico e o desenvolvimento psicossexual anal; salientar a relação possível entre situações abusivas e a tendência para a compulsão à repetição de situações íntimas que repetem o padrão sadico-masoquista; mostrar como a resolução/integração da perturbação permite a emrgência dum padrão de enlace afectivo mais criativo e ìntimo.

Metodologia: Estudo qualitativo suportado em excertos de casos clínicos e na sua evolução.

Resultados: A transformação das situações traumáticas parece ser, após um periodo de elabotração turbulenta, o caminho para uma mudança de dixit relacional intimo. A resolução dos vividos perturbadores permite a emergência dum enlace intimo criativo e expansivo sem subjugação e/ou dominância de um dos parceiros sobre o outro.

Conclusões: A construção duma área de enlace criativo exige a elaboração dos aspectos relacionados com a problemática da integridade pessoal. Enquanto esta estiver ameaçada, o indivíduo tenderá a estabelecer relações onde o aspectos menos reslovidos (fase anal) tenderão a emergir e a comprometer ainda mais a integridade dos parceiros no enlace intimo.

Bibliografia:

- FREUD, S. (1980a). Três ensaios sobre a sexualidade. Edição Standard Brasileira das obras completas de Sigmund Freud, Vol VII. Rio de Janeiro, Imago Editora.

- FREUD, S. (1980b). Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental. Edição Standard Brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Vol XII. Rio de Janeiro, Imago Editora.

- FREUD, S. (1980c). Sobre o narcisismo: uma introdução. Edição Standard Brasileira das obras completas de Sigmund Freud., Vol XIV. Rio de Janeiro, Imago Editora.

- FREUD, S. (1980d). Instintos e suas vicissitudes. Edição Standard Brasileira das obras completas de Sigmund Freud, Vol XIV. Rio de Janeiro, Imago Editora.

- FREUD, S. (1980e). O Ego e o Id. Edição Standard Brasileira das obras completas de Sigmund Freud, Vol XIX. Rio de Janeiro, Imago Editora.

- FREUD, J. (1992). L’adolescence, entre le trop et le trop peu de liaisons. Adolescence, 23, 79-98.

- GROTSTEIN, J. (1999). O buraco Negro. Lisboa, Climepsi Editores.

- WINNICOTT, D. (1989). Tudo Começa em Casa. São Paulo, Editora Martins Fontes.

- WINNICOTT, D.(1990). Natureza Humana, Rio de Janeiro,

Imago Editora.

- WINNICOTT, D. (1993). Da pediatria à psicanálise, Textos seleccionados. Rio de Janeiro, Editora Francisco Alves.


 

VIOLÊNCIA ENTRE NAMORADOS ADOLESCENTES: QUESTÕES DE GÊNERO

Fernanda Mendes Lages Ribeiro – Pesquisadora do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (CLAVES)/Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)

fernandamlr@claves.fiocruz.br

Queiti Batista Moreira Oliveira – Pesquisadora do CLAVES/FIOCRUZ.

Kathie Njaine – Pesquisadora do CLAVES/FIOCRUZ.

Simone Gonçalves de Assis – Pesquisadora Titular/Coordenadora Executiva CLAVES/ FIOCRUZ.

Joviana Quintes Avanci – Pesquisadora do CLAVES/ FIOCRUZ.

 

Introdução: O estudo visa analisar o contexto das relações afetivo-sexuais entre adolescentes a partir da ótica de gênero e identificar as representações da violência nas relações de namoro e “ficar” pelos adolescentes, professores e profissionais de saúde. Esta proposta dá continuidade a uma investigação de cunho quantitativo realizada em 10 capitais brasileiras, com 3.205 adolescentes, que buscou conhecer a magnitude da deste tipo de violência. Neste estudo pretende-se aprofundar como as construções culturais violentas de gênero são reproduzidas nas relações entre jovens namorados.

Justificativa: A proposta tem relevância para a saúde pública, reconhecida por uma consciência cada vez mais aguda das relações sistêmicas entre violência na juventude, violência entre rapazes e moças nas relações de namoro, que se baseia nas noções de papéis de gênero, socialização e relações de poder, violência de gênero e violência social difusa. Esse tema foi pouco estudado até início dos anos 80, pois a ênfase das pesquisas era colocada sobre a violência nas relações conjugais e, especificamente, na violência contra a mulher.

Objetivos: Analisar o contexto das relações afetivo-sexuais entre adolescentes, a partir da ótica de gênero, e identificar as representações da violência no namoro pelos adolescentes, relacionando-as com a prática de violência física, psicológica e sexual, assim como de professores e profissionais de saúde.

Metodologia: estudo qualitativo com adolescentes de 15 a 19 anos, profissionais de saúde e de educação. O estudo abrangerá, no primeiro semestre de 2010, cinco cidades, nas cinco regiões do país. Serão utilizadas três técnicas qualitativas: entrevistas em profundidade com adolescentes que tenham vivência de violência, indicados pelos profissionais de saúde e por professores; grupos focais com profissionais de saúde, educadores das redes particular e pública, em cada cidade; observação de campo.

Resultados: Os resultados do estudo quantitativo, aqui referido, mostraram que praticamente 9 em cada 10 jovens praticam/sofrem variadas formas de violência e que seus tipos estão inter-relacionados. A agressão verbal é a que mais ocorre: cerca de 85% perpetraram e/ou foram vítimas.

Conclusões: Destaca-se a grande lacuna de estudos qualitativos no Brasil, o que contrasta com a relevância da violência social e interpessoal que produz lesões físicas e emocionais, evidenciadas por estudos epidemiológicos sobre a juventude no Brasil. Propõe-se preencher a lacuna de estudos e dar subsídios para políticas de promoção da saúde do adolescente.

Bibliografia:

- MINAYO, M.C.S. & SOUZA, E.R. (orgs.). Violência sob o olhar da saúde: a infrapolítica da contemporaneidade brasileira. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003.


 

VIOLÊNCIA SEXUAL E VIOLÊNCIA DE OUTROS TIPOS: VÍTIMAS E CONTEXTOS,

Joana Patrício - CesNova, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa

joanapatricio@fcsh.unl.pt

 

Introdução e justificação do tema: A comunicação foca a violência sexual cometida contra as mulheres declarada no Inquérito Nacional Violência de Género (2007), estudo encomendado pela Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género ao SociNova/CesNova, sob a coordenação do Professor Doutor Manuel Lisboa. O tema foi desenvolvido na dissertação de mestrado. O fenómeno da violência sexual tem permanecido socialmente invisível nas estatísticas oficiais. Vários aspectos relacionados com a construção social do género na sociedade ocidental dificultam o conhecimento sobre a violência sexual.

Objectivos: A comunicação apresenta as especificidades da violência sexual relativamente a outros tipos de violência. A violência sexual é focada a dois níveis: vítimas e contextos de violência. Em relação às vítimas, apresentam-se os traços socioculturais que distinguem as vítimas de violência sexual das vítimas de violência física e psicológica. Ao nível dos contextos de violência, comparam-se os contextos da violência sexual com os das restantes violências cometidas contra as vítimas de violência sexual.

Metodologia: Os dados quantitativos apresentados decorrem da informação recolhida no Inquérito Nacional Violência de Género: 397 vítimas de violência sexual, física ou psicológica e os actos de violência declarados pelas 112 vítimas de violência sexual.

Resultados: Das 1000 mulheres inquiridas em 2007 e segundo o conceito de violência sexual aplicado, 11,2% foi vitimada por actos de violência sexual, sobretudo actos de assédio sexual. A comparação entre vítimas de violência sexual e vítimas de violência física ou psicológica revela diferenças socioculturais: as vítimas de violência sexual apresentam-se como mais jovens do que as vítimas de violência física ou psicológica. Quanto aos contextos de ocorrência e centrando a análise nos vários actos de violência cometidos contra as vítimas de violência sexual, verifica-se que o contexto da violência sexual difere do contexto dos restantes tipos de violência. A violência sexual tem lugar em espaços públicos e os restantes tipos na esfera mais doméstica.

Conclusões: Os resultados apontam para uma cronologia na vitimação e na perpetração da violência. À violência sexual menos grave tem início durante a juventude das mulheres, corroborado pela informação sociocultural das vítimas. À medida que as mulheres envelhecem, os tipos de violência e os contextos e autores de violência modificam-se.

Bibliografia:

- Patrício, Joana (2009). Violência sexual no feminino. Universos temporais e contextos sociais. Dissertação de Mestrado em Estudos sobre as Mulheres: as Mulheres na Sociedade e na Cultura, FCSH-UNL.


 

TRAJECTÓRIAS DE VIOLÊNCIA DE GÉNERO

Zélia Barroso - CesNova, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa

zbarroso@fcsh.unl.pt

 

Introdução e justificação do tema: A violência interpessoal e de género, sobretudo a que ocorre no espaço doméstico, raramente é um acto isolado, repete-se ciclicamente configurando trajectórias de violência que, quando vividas no feminino, frequentemente se prolongam no tempo por períodos superiores a 10 anos. A constatação deste fenómeno é perceptível nos resultados de vários estudos realizados pela equipa de estudos do género do SociNova/CesNova. Para além disso, o interesse em aprofundar o estudo desta temática advém, simultaneamente, da vontade pessoal de procurar estabelecer ligações entre duas outras investigações: uma primeira, sobre maus-tratos infantis, realizada em 2001, em que procuro construir uma tipologia de formas de abuso segundo características socioculturais das crianças vítimas, sendo uma delas a existência ou não de sinais de violência conjugal entre os pais e, o modo como a presença desta pode influenciar o comportamento destas crianças; uma segunda sobre violência de género nas relações amorosas, publicada em 2007, onde a dimensão temporal das agressões e a exposição directa ou indirecta dos filhos das mulheres vítimas também foram abordadas.

Objectivos: Sintetizar alguns dos principais resultados da investigação que está a ser concluída no âmbito do doutoramento da autora, procurando comparar dois cenários de vitimação – a feminina vs. a masculina - e analisar dois modos distintos de experienciar a violência – mulheres e homens vítimas com trajectória vs. vítimas sem trajectória.

Metodologia: A investigação empírica desenvolvida baseia-se no aprofundamento de parte dos dados recolhidos no Inquérito Nacional sobre Violência de Género, realizado em 2007 pelo CesNova. Embora o inquérito tenha assentado numa amostra de 1000 mulheres e 1000 homens com 18 ou mais anos), os dados da investigação que aqui apresento dizem respeito, unicamente, ao universo de vítimas (mulheres/homens) que sofreram pelo menos 1 dos 52 actos de violência física, psicológica e/ou sexual contemplados no inquérito. Para a identificação de trajectórias de violência foram considerados não só os casos de mulheres e homens que referiram ter sido vítimas de violência no último ano e/ou em anos anteriores à aplicação do questionário mas, também, as situações em que apesar de mencionarem não o ter sido, entram em contradição ao afirmarem mais adiante, ter sido sofrido actos de violência psicológica, física e/ou sexual, durante a infância/adolescência.

Resultados: Num universo de 1000 mulheres e 1000 homens inquiridos, foi possível observar percentagens de vitimação no feminino de 39,7% e, no masculino de 43,5%, relativamente a actos que envolvem violência psicológica, física e sexual. Embora o peso de homens vítimas seja superior ao das mulheres em termos gerais, é em contrapartida, bastante inferior (26,9%) ao delas (53,9%) no que respeita à existência de trajectórias de violência, o que significa que estamos perante violências de natureza diferente: nas mulheres, quase sempre ocorre reiteradamente, em casa, infligida pelo parceiro ou outros familiares, nomeadamente, pais/padrastos, tendo na sua configuração desigualdades de género; nos homens, tal não acontece, trata-se de uma vitimação semelhante à que verificamos na população em geral, maioritariamente perpetrada por outros homens, em espaços públicos, sem reiteração e que quando surge associada a papéis de género, visa o reforço da masculinidade. O único momento em que parece haver alguma trajectória de vitimação masculina é na infância/adolescência com a violência exercida pelos pais/padrastros, ao passo que nas mulheres, a mesma tende a prolongar-se pela idade adulta, continuando a ser perpetrada por pela figura parental, pelo parceiro íntimo ou por ambos.

Conclusão: Os resultados que sustentam esta comunicação procuram mostrar uma abordagem diferente da usual no que respeita às trajectórias de violência de género contra mulheres e contra homens, buscando contributos noutras variáveis, até ao momento pouco exploradas neste tipo de estudos.

Bibliografia:

- Lisboa, Manuel; Barroso, Zélia; Patrício, Joana & Leandro, Alexandra (2009). Violência de Género. Inquérito Nacional sobre a Violência Exercida Contra Mulheres e Homens. Colecção Estudos de Género. Lisboa: comissão para a Cidadania e Igualdade de Género.

- Barroso, Zélia. Violência nas Relações Amorosas (2007). Uma Análise sociológica dos Casos Detectados nos Institutos de Medicina Legal de Coimbra e do Porto. Lisboa: Colibri.


 

ADOLESCÊNCIA, VIOLÊNCIA E GÉNERO NUM CONCELHO DA ÁREA METROPOLITANA DE LISBOA

João Sebastião; Alice Rosa Alexandre; Jorge Horta Ferreira - CIES, ISCTE-IUL (Centro de Investigação e Estudos de Sociologia, Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – Instituto Universitário de Lisboa)

joao.sebastiao@netcabo.pt

jorgehortaferreira@gmail.com

 

O presente estudo inscreve-se nos objectivos estratégicos de um Plano Municipal contra a Violência Doméstica actualmente em curso, que, entre outras medidas e acções previstas, visa promover o conhecimento sobre a percepção dos jovens relativamente às relações sociais de género e à violência. Com a sua apresentação procuramos contribuir, no âmbito da Conferência, para a abertura de espaços de intercâmbio entre investigadores/as, clínicos e outros profissionais, de forma a facilitar acções comuns relevantes na promoção de uma cultura de não-violência e de equidade de género.

Os objectivos do estudo são caracterizar e analisar as percepções, atitudes e práticas dos/as jovens de um Concelho da Área Metropolitana de Lisboa relativamente à violência entre pares e nas relações de intimidade, de modo a fundamentar a intervenção futura ao nível da prevenção nestes domínios.

A metodologia de recolha de informação junto dos/as jovens consistiu na aplicação de um inquérito por questionário a uma amostra representativa da população que frequenta o 9º ano nas escolas públicas do Concelho. Na construção do questionário foram operacionalizadas as dimensões da violência entre pares, da violência nas relações de intimidade e da relação entre violência e questões de género.

A amostra é constituída por 501 alunos/as, correspondentes a cerca de 36% da população escolar inscrita no 9º ano no ano lectivo de 2009/2010 (1415 alunos/as), e é estratificada, considerando cada uma das doze escolas, o seu peso relativo no total do Concelho e a distribuição por sexo em cada uma delas. A selecção de alunos/as, ponderando os referidos estratos, foi realizada aleatoriamente.

O questionário foi inserido numa plataforma online com recurso a software especializado, permitindo aos/às jovens responder-lhe a partir de computadores com ligação à Internet. A aplicação teve lugar em sessões colectivas nas escolas, contando com o apoio presencial de membros da equipa de investigação.

No tocante às fontes utilizadas, a equipa de investigação consultou uma ampla bibliografia, nacional e internacional, tendo em vista o enquadramento teórico e metodológico das matérias em estudo. Porém, a comunicação basear-se-á na apresentação dos pressupostos, estrutura e metodologia de uma pesquisa original de matriz empírica actualmente em curso.


 

DOS PROCESSOS DE CONJUGALIDADE AOS PADRÕES TRANSACIONAIS: REPRESENTAÇÕES DE GÉNERO E VIOLÊNCIA

Maria Henriqueta de Jesus Silva Figueiredo - Escola Superior de Enfermagem do Porto

henriqueta@esenf.pt

Zaida Borges Charepe - Instituto de Ciências da Saúde – Universidade Católica Portuguesa

zaidacharepe@ics.lisboa.ucp.pt

 

Introdução e justificação: A violência nas relações de intimidade, situam-se na complexidade dialéctica das estruturas sociais e familiares, associada a um conjunto de valores, hábitos e crenças que reproduzem modelos de desigualdade sexual, orientados por representações dos papéis de género e das práticas normativas.

Objectivos: Temos como propósito analisar os processos de estruturação das crenças sobre o papel de género e a sua interdependência no estabelecimento dos padrões transacionais do sistema conjugal, associados aos elementos de crescimento, de crise e de criatividade, característicos de uma auto-organização em contexto e em relação.

Metodologia: Efectuamos uma revisão bibliográfica centrada no pensamento sistémico como referencial teórico-filosófico para uma abordagem hermenêutica dos processos de interacção conjugais protectores ou facilitadores da violência enquanto fenómeno comunicacional recursivo.

Resultados: O sistema familiar, revela-se como uma organização de relações dinâmicas, contextuais e complexas em interacção com o meio, derivada de consequentes processos de transformações sociais, que foram por ela assimilados e transmitidos inter e transgeracionalmente.

Nesta rede múltipla de relações de intercontextualidade, as diferenças entre os sexos são referidas como justificação das posições de desigualdade entre os homens e as mulheres. O género, conceito resultante de uma construção social, que determina diferentes posições sociais, e contextos de poder.

As representações sociais do papel de género justificam as assimetrias existentes entre os dois sexos quer na sociedade, quer na família. Estão associadas às mesmas expectativas sobre características e comportamentos, globalmente partilhadas pela sociedade, e por isso normativas e reguladoras do papel social inerente ao género.

O comportamento social é assim predito pelas crenças estereotipadas sobre atributos pessoais. A complexidade dos factores relacionais, sociais e históricos associados à estruturação dos papéis de género tornam inegável o impacte relacional e estrutural da família na co-construção dessas crenças. A pertença sexual permanece como elemento regulador das relações conjugais, familiares e sociais, determinando o estatuto dos indivíduos na sociedade e na família. Influencia ainda a organização das práticas familiares e dos padrões de comunicação. Estas práticas além de tornarem visíveis as desigualdades entre homens e mulheres, contribuem para a manutenção das desigualdades sociais, confirmadas pelas estruturas sociais.

Conclusões: Na compreensão destes processos, emerge a necessidade de ampliar o foco para uma visão mais apreciativa dos potenciais e capacidades da família, enquanto unidade sistémica, considerando que os sistemas tendem à mudança progressiva numa visão de realidades impregnadas de co-construções sociais.

Bibliografia

- Alarcão, M. (2002). (Des)Equilíbrios familiares, uma visão sistémica. Coimbra: Quarteto Editora.

- Ausloos, G. (2003). A competência das famílias. Lisboa: Climepsi.

- Biasoli-Alves, Z. (1999). Relações Familiares. Texto e Contexto Enferm, 8(2), pp. 229-241.

- Cooperrider, D., Whitney, Diana, Stavros, Jacqueline (2003). Appreciative Inquiry Handbook. United States of America: Lakeshore Communications, Inc.

- Costa, M. (2005). À procura da intimidade. Lisboa: Edições ASA.

- Doise, W., Clémence, A., & Lorenzi-Cioldi, F. (1992). Représentations sociales et analyses de données. Grenoble: Presses Universitaires de Grenoble.

- Figueiredo, M. (2003). Representação social da doença e do seu efeito nas práticas familiares. Porto: Tese de Mestrado em Psicologia, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, Universidade do Porto.

- Figueiredo, M. (2009). Enfermagem de Família: Um Contexto do Cuidar. Porto: Tese de Doutoramento em Ciências de Enfermagem, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto

- Gameiro, A. (2007). Entre Marido e Mulher… Terapia de casal. Lisboa: Trilhos.

- Giddens, A. (1993). A transformação da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas. São Paulo: UNESP.

- Gimeno, A. (2001). A família, o desafio da diversidade. Lisboa: Instituto Piaget.

Jones, E. (2004). Terapia dos sistemas familiares. Lisboa: Climepsi Editores.

- Kellerhals, J., Pierre-Yves, T., & Lazega, E. (1989). Microssociologia da Família. Mem Martins: Europa-América.

- Nogueira, C. (2001). Um novo olhar sobre as relações sociais de género. Feminismo e perspectivas críticas na psicologia social. Braga: Fundação Calouste Gulbenkian.

- Poeschl, G. (2000). Trabalho doméstico e poder familiar. Práticas, normas e ideais. Análise Social, XXXV(156), pp. 695-719.

- Segalen, M. (1995). Sociologia da Familia. Lisboa: Terramar.

- Singly, F. (2000). O eu, o casal e a família. Lisboa: Publicações Dom Quixote.

- Slepoj, V. (2000). As Relações de Família. Lisboa: Editorial Presença.

- Torres, A. (2001). Sociologia e Casamento. A família e a questão feminina. Oeiras: Celta.

- Wall, K. (2005). Famílias em Portugal Percursos, interacções, redes sociais. Lisboa: ICS, Imprensa de Ciências Sociais.


 

VIOLÊNCIA NO NAMORO EM ESTUDANTES QUE FREQUENTAM O ENSINO SUPERIOR

Lídia Cabral (Docente); Cátia Leitão Costa; Joana Rita Dias Lopes; João Miguel Amaral Diogo; Liliana Soraia Silva Costa; Miguel Ângelo da Mota Ferreira; Ricardo Emanuel da Cunha Miranda - Escola Superior de Saúde de Viseu

juanitah_lopes_7@hotmail.com

 

Introdução: A violência entre as pessoas ligadas por um laço de intimidade não é um fenómeno recente, mas só se constituiu como um problema social específico a partir da década de 60 do século passado. Os jovens universitários, estão inseridos numa sociedade onde por diversos factores a violência sempre foi encoberta, neste momento, mais que nunca, esses actos violentos têm tido maior atenção, e uma crescente visibilidade social e científica. Desta forma torna-se pertinente a realização deste estudo de forma a alertar, consciencializar e promover uma mudança de mentalidades a nível desta faixa etária, uma vez que serão os adultos do futuro e os responsáveis pela educação das próximas gerações.

Métodos: Estudo exploratório, descritivo, correlacional de natureza quantitativa. Amostra de 568 alunos dos cursos de Licenciatura em Enfermagem, Licenciatura em Educação Básica, Licenciatura em Engenharia Informática e Licenciatura em Engenharia Cívil do Instituto Superior Politécnico de Viseu.

Material: Programa estatístico Statistical Package for the Social Sciencies (SPSS 17.0). Instrumento de colheita de dados: questionário. 

Objectivos: Aferir uma escala que avalie a violência no namoro em jovens estudantes do Ensino Superior no Ensino Superior, em Portugal.

Resultados: Estamos neste momento na fase de tratamento de dados para proceder à validação de uma escala sobre “Violência no Namoro em Estudantes que Frequentam o Ensino Superior”, elaborada para o efeito.

Palavras Chave: Alunos do Ensino Superior, Violência no Namoro.

Conclusões: Como foi referido anteriormente a escala foi adaptada e traduzida por nós, de modo a ir de encontro às necessidades do nosso estudo exploratório, pelo que as conclusões apenas poderão ser retiradas após a aplicação dos questionários a toda a amostra e respectivo tratamento de dados.

Bibliografia:

- CAROLO, Humberto; Instituto Promundo, Rio de Janeiro, Brasil; Escala de equidade e género para Homens, 2008.

- SITKEWICH e GRUNBERG (1979) cit in. SOUSA; Escala de Greaffar – Nível Socio-Económico; (1999).

- MACHADO, C., MATOS, M., & MOREIRA, A. I. (2003); Violência nas relações amorosas: Comportamentos e atitudes na população universitária; Psychologica, 33, 69-83.

- CARIDADE, S., MACHADO, C., & VAZ, F. M. (2007); Violência no namoro: Estudo exploratório em jovens estudantes; Psychologica, 46, 197-214.

- FRITZ, P.A.T.; (2009). Stability of physical and Psychological Adolescent Dating Aggression across time and partners; Journal of clinical child and adolescent psychology 38 (3): 303-314, 2009.


 

O TEATRO FÓRUM COMO CONTRIBUTO PARA O DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS DOS ESTUDANTES DE ENFERMAGEM INTEGRADOS NO PROJECTO “(O)USAR E SER LAÇO BRANCO: UM NÃO À VIOLÊNCIA ENTRE PARES.”

Ana Filipa dos Reis Marques Cardoso; Maria Neto da Cruz Leitão; Cristina Maria Figueira Veríssimo; Joana Catarina Nóbrega Faria Moura; Rafaela da Costa Pinheiro – Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

fcardoso@esenfc.pt

 

 

“O Teatro do Oprimido é um sistema de exercícios, jogos e técnicas especiais baseadas no teatro essencial, que procura ajudar homens e mulheres a desenvolverem o que já trazem em si mesmos: o teatro” (Declaração de Princípios da Associação Internacional do Teatro do Oprimido).

Sendo um tipo de teatro do oprimido, sustenta-se nas teorias de Paulo Freire, pretendendo “despertar a consciência social dos indivíduos, confrontando-os com histórias reais e verdadeiras e disponibilizando meios” que lhes permitem encontrar soluções possíveis para diferentes problemas.

Esta metodologia permite a participação activa do público propondo alternativas às situações apresentadas. Durante o debate, o indivíduo é convidado a trocar de papel com os actores, de forma a experimentar soluções alternativas para os problemas identificados. O Teatro do Oprimido é utilizado em todo o mundo e permite trabalhar uma infinidade de temas, adequando o teatro às necessidades sociais da população, facultando-lhe um espaço vivencial. No Teatro do Oprimido o indivíduo pode ter voz activa e encontrar parceiros de diálogo, descobrindo vários pontos de vista sobre a mesma questão, adquirindo desta forma ferramentas que o valorizam enquanto indivíduo e estimulam a sua consciência social face a diferentes problemáticas.

A realização do Teatro do Oprimido surge no contexto do plano de formação dos estudantes da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra para a sua formação como educadores dos seus pares, com o objectivo de sensibilizar e educar os jovens, para prevenirem e combaterem a violência especialmente no contexto das relações de intimidade no namoro.

Participantes: 18 estudantes da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

O curso de formação teve como ponto de partida a proposta de exercícios práticos com base em técnicas teatrais com a duração de 30 horas. No final da formação foram distribuidos questionários com 8 questões abertas, dos quais destacamos os seguintes resultados: na perspectiva dos jovens, o teatro é uma estratégia interactiva, inovadora, divertida e dinâmica, que tem como potencialidades, promover a interacção das pessoas, o envolvimento, a cooperação entre pares e o espírito de equipa.

Esta formação permitiu conhecer e apreciar o sentido estético da vida, terem um melhor conhecimento de si próprios e dos outros, trabalharem a expressividade corporal e a exteriorização das emoções. Aumentou a auto-confiança, a auto-estima, melhorou a timidez, e criou neles a proactividade.

Durante todo o processo de formação sentiram-se muito bem, a sua evolução foi muito positiva e progressiva, para a qual concorreu o clima motivador, de partilha e de convívio que contribuiu para o seu empenho, dedicação, envolvimento e motivação. Os estudantes salientaram a importância do papel do formador e das suas características potenciadoras positivas, conseguindo demonstrar sempre elevada confiança no grupo e nas nossas capacidades.

Esta formação permitiu a auto-consciência das suas potencialidades que superaram as suas expectativas. Os resultados encontrados permitem-nos verificar que este processo formativo contribuiu significativamente para promover o desenvolvimento pessoal e profissional dos estudantes, com vista ao seu desempenho como educadores dos seus pares e como futuros enfermeiros. De salientar o empenho, a dedicação, a motivação e as relações interpessoais vivenciadas por todos ao longo de todo o processo.

Bibliografia:

- BADACHE, René. Jeux de Drôles. Jeunes et société: quand le théâtre transforme la violence.

- Cortesão, Luísa e tal. Diálogos através de Paulo Freire. Colecção querer saber 1. Instituto Paulo freire de Portugal e Centro de Recursos Paulo FreireFPCE (s.d).


 

A FORMAÇÃO COMO ESTRATÉGIA DE MUDANÇA DAS CRENÇAS FACE À VIOLÊNCIA NAS RELAÇÕES DE INTIMIDADE

Helena da Conceição Catarino; Maria dos Anjos Coelho Rodrigues Dixe; Sónia de Sousa Henriques – Escola Superior de Saúde do IPL

helena.catarino@ipleiria.pt

Helena Maria Mourão Felizardo; Maria Clara Amado Apóstolo Ventura – Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

helenaf@esenfc.pt

 

Introdução e objectivos: Para que as mudanças de atitudes, crenças e comportamentos face à violência possam ser viabilizadas e consolidadas é importante fazer um maior investimento na formação dos agentes educativos. A educação pelos pares é actualmente uma estratégia usada para responder a questões relacionadas com a prevenção da violência nas relações de intimidade mais especificamente no namoro. Para que esta seja eficaz há necessidade de realizar formação aos envolvidos. Face a esta contextualização este estudo teve como principais objectivos avaliar as crenças face à violência conjugal de um grupo de estudantes de enfermagem antes e depois de uma formação e determinar se a idade e o sexo são factores preditivos das mesmas.

Metodologia: Realizou-se um estudo correlacionado numa amostra de 41 participantes tendo-se comparado as crenças face à violência antes e após a formação. A formação decorreu durante 9 sessões ao longo de 2 meses no ano de 2009. A participação nesta formação foi voluntária podendo participar estudantes de duas escolas superiores de enfermagem: de Coimbra e de Leiria. O único critério de exclusão era não ter possibilidade de participar em todas as sessões. Participaram 8 (19,5%) rapazes e 32 (78,0%) raparigas; 36 (92,3%) solteiros e 7,7% (3) casados.

Em virtude de não ter sido possível emparelhar os dados realizámos um estudo comparativo tendo por base os dois momentos designados antes e após a formação. Foi utilizada a Escala de Crenças sobre Violência Conjugal (ECVC; Matos, Machado & Gonçalves, 2000).

A ECVC mede o grau de tolerância face à violência no contexto da conjugalidade, assim como os diferentes factores que podem contribuir para tal legitimação. Os valores da escala variam entre 0 e 125.

Resultados: Antes do início da formação os estudantes do sexo masculino (média 32,7; DP=7,8) e do sexo feminino (média = 35,7; DP= 6,9) apresentaram em média uma baixa tolerância à violência não havendo diferenças estatisticamente significativas entre estes dois grupos (p>0,05). A formação realizada a estes estudantes não promoveu alteração no grau de tolerância à violência na intimidade continuando as diferenças entre sexos a não ter significado estatístico. De salientar que as crenças face à violência na intimidade também não estão relacionadas com a idade dos respondentes.

Conclusão: Apesar da formação neste grupo de participantes não ser factor preditivo da alteração das crenças face à violência importa continuar a desenvolver acções de formação e sensibilização dos jovens para esta problemática como forma de a prevenir.

Bibliografia:

- Hickman, L. J.; Jaycox, L. H.; Aronoff, J. (2004). Dating violence among adolescents. Prevalence, gender distribution and prevention program effectiveness. Trauma, Violence e Abuse, v. 5, n. 2, p. 123-142.

- Machado, C., Matos, M., e Moreira, A. I. (2003). Violência nas relações amorosas: Comportamentos e atitudes na população universitária. Psychologica, 33, 69-83.

- Silva, M. J., e Matos, M. (2001). Percepções da violência entre estudantes do ensino secundário. Texto policopiado. Braga: Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho.


 

MUDANÇAS DAS CRENÇAS DE ESTUDANTES DE ENFERMAGEM FACE À VIOLÊNCIA CONJUGAL: IMPACTO DA FORMAÇÃO

Maria dos Anjos Coelho Rodrigues Dixe; Susana Custódio – Escola Superior de Saúde do IPL

manjos@ipleiria.pt

Cristina Maria Figueira Veríssimo; Maria Neto da Cruz Leitão; Susana Pires – Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

cristina@esenfc.pt

 

Introdução e objectivos: A investigação da violência no namoro tem demonstrado a importância da prevenção junto das populações de adolescentes e jovens através da educação. No entanto os estudos sobre o impacto desses programas de educação têm sido escassos, o que pode representar um aspecto menos positivo na expansão deste tipo de programas. Partindo destas premissas elaborámos um estudo longitudinal com o objectivo de avaliar a efectividade da formação na mudança das crenças face à violência conjugal de um grupo de estudantes de enfermagem

Metodologia: Para atingir o objectivo definido realizou-se um estudo quase experimental do tipo pré-teste post teste sem grupo de controlo com 12 estudantes tendo-se comparado as crenças face à violência antes e após a formação. De salientar que a formação decorreu durante 9 sessões de formação ao longo de 2 meses no ano de 2009. A participação nesta formação foi voluntária podendo participar estudantes de duas escolas superiores de enfermagem: a de Coimbra e a de Leiria. O único critério de exclusão era não ter possibilidade de estar presente em todas as sessões. Participaram 16,7% (2) rapazes e 83,3% (10) raparigas, maioritariamente solteiros (91,7%; 11). Os participantes tinham uma média de idades de 21,1 anos (SD=2,5).

Em virtude de não ter sido possível emparelhar os dados, realizámos um estudo comparativo tendo por base os dois momentos designados antes e após a formação. Foi utilizada a Escala de Crenças sobre Violência Conjugal (ECVC; Matos, Machado & Gonçalves, 2000).

A ECVC mede o grau de tolerância face à violência no contexto da conjugalidade, assim como os diferentes factores que podem contribuir para tal legitimação. Os valores da escala variam entre 0 e 125.

Resultados e discussão: Antes do início do programa de formação verificámos que os estudantes apresentavam uma média de 40,7 (SD=11,3) no que diz respeito às crenças face à violência conjugal. No final da formação este valor médio desce para 39,5 (SD= 8,6). As diferenças encontradas não têm significado estatístico (p>0,05), ou seja, os estudantes não mudaram significativamente as suas crenças face ao grau de tolerância face à violência. De salientar, no entanto, que antes da formação os estudantes já apresentavam uma baixa tolerância à violência, se tivermos presente que o valor é muito inferior ao de 67,5 que representa a mediana da escala.                 

Bibliografia:

- Lavoie, F.; Robitaille, L.; Research Hebert, M. (2000). Teen dating relationships and agression. Violence Against Women, v. 6, n. 1, p. 6-36.

- Machado, C.; Matos, M.; Gonçalves, M. (2004). E. C. V. C. - Escala de crenças sobre a violência conjugal. In: Almeida L.; Simões M., Machado C.; Gonçalves M. M. (Coords.), Avaliação psicológica. Instrumentos validados para a população portuguesa. v. II (pp. 127-140). Coimbra: Quarteto.

- Machado, C.; Matos, M.; Moreira, A. I. (2003). Violência nas relações amorosas: Comportamentos e atitudes na população universitária. Psychologica, n. 33, p. 69-83.


                                                                      

VIOLÊNCIA CONJUGAL: AS CRENÇAS DOS ESTUDANTES DO ENSINO SUPERIOR

Regina Maria Fernandes Jesus Ponte Ferreira Amado; Teresa Maria de Campos Silva; Raquel Sofia Solano Araújo - Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

regina@esenfc.pt

Maria dos Anjos Coelho Rodrigues Dixe; Helena da Conceição Catarino; - Escola Superior de Saúde do IPL

manjos@ipleiria.pt

 

Introdução e objectivos. A violência entre pessoas ligadas por laços de intimidade não é um fenómeno recente. Vários são os estudos que referem que os adolescentes, quer do sexo feminino quer do sexo masculino, evidenciam uma baixa concordância com o uso da violência nas relações íntimas. No entanto, outros estudos demonstram apesar dos programas de prevenção e ainda que em minoria, um número significativo de jovens concorda com o uso de algum tipo de violência nas relações de namoro. (Caridade & Machado, 2006). Face a esta contextualização este estudo teve como principais objectivos avaliar as crenças face à violência conjugal de um grupo de estudantes e de docentes de enfermagem e determinar se a idade e o sexo são factores preditivos das mesmas.

Metodologia: Para atingir os e 126 (76,8%) do sexo feminino, com uma média de idades de 22 anos (DP= 5,2). Foi tendo sido aplicada a Escala de Crenças sobre Violência Conjugal (ECVC) de Matos, objectivos realizou-se um estudo correlacionado numa amostra de 164 participantes, sendo 38 (23,2%) do sexo masculino Machado e Gonçalves (2000).

A ECVC mede o grau de tolerância face à violência no contexto da conjugalidade, assim como os diferentes factores que podem contribuir para tal legitimação. Este instrumento avalia as crenças sustentadas em torno da violência na intimidade, permitindo compreender melhor as reacções dos sujeitos nela envolvidos e também perceber o enquadramento cultural mais amplo em que estas atitudes e práticas surgem. Os valores da escala variam entre 0 e 125.

Resultados: Os resultados mostraram que, apesar de homens e mulheres serem pouco tolerantes face à violência, as mulheres apresentam-se em média menos tolerantes (média = 37,9; DP= 0,9) que os homens (média = 43,8; DP= 23,8) sendo essa diferençam estatisticamente significativa. A idade não se apresenta como factor preditivo das crenças face à violência tanto para os homens como para as mulheres (p>0,05).

É de salientar no entanto que em alguns indicadores essas diferenças são estatisticamente significativas, nomeadamente: as mulheres mais novas são mais tolerantes quando se refere que “a causa da violência é o abuso de álcool”, “O problema dos maus tratos dentro do casamento afecta uma pequena percentagem da população” “os homens passam a agredir as mulheres porque se envolvem em relações extraconjugais”.

Bibliografia:

- Caridade, Sónia & Machado Carla (2006). Violência na intimidade juvenil: Da vitimação à perpetração Análise Psicológica, 4 (XXIV): 485-493

- Machado, C.; Matos, M.; Moreira, A. I. (2003). Violência nas relações amorosas: Comportamentos e atitudes na população universitária. Psychologica, n. 33, p. 69-83.

- Matos M., Machado, C., Gonçalves, M. M. (2000). E.C.V.C. – Escala de Crenças sobre Violência Conjugal. Braga: Universidade do Minho, Instituto de Educação e Psicologia.

- Machado, C., Matos, M., e Moreira, A. I. (2003). Violência nas relações amorosas: Comportamentos e atitudes na população universitária. Psychologica, 33, 69-83.

- Paiva, C., e Figueiredo, B. (2004). Abuso no relacionamento íntimo: Estudo de prevalência em jovens adultos portugueses. Psychologica, 36, 75-107.


VIOLÊNCIA NAS RELAÇÕES DE INTIMIDADE: PERCEPÇÃO DE ADOLESCENTES

António Manuel Martins Lopes Fernandes, Ana Maria Poço dos Santos, Patrícia da Assunção Fonseca Moniz; Anabela Caetano; Júlia Carvalho – Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

amanuel@esenfc.pt

 

A violência entre pessoas ligadas por laços de intimidade, não sendo um fenómeno novo, é considerado actualmente um problema de saúde pública, atendendo à constatação crescente de que a violência de género está associada a um maior risco para a saúde física, mental e sexual para além do trauma físico directo (D´Oliveira e Schraiber, 1999).

Esta investigação surge com a finalidade de, conhecer a percepção dos adolescentes quanto à frequência causas e consequências do fenómeno da violência nas relações de intimidade, antes do programa de sensibilização realizado através de workshop. Pretende ainda perceber se existe diferença entre a percepção que os adolescentes do sexo feminino e masculino e os pré-adolescentes têm sobre a frequência deste fenómeno.

A amostra, do tipo não probabilística acidental, é constituída por 474 adolescentes do 3º Ciclo do Ensino Básico e Secundário, com idades entre os 13 e 19 anos.

A metodologia utilizada foi a quantitativa e a qualitativa, com aplicação de um questionário antes da sensibilização, para conhecer a percepção dos adolescentes quanto à frequência, causas e consequências do fenómeno da violência no namoro.

Os adolescentes eram maioritariamente do sexo feminino (54%), com média de idades de 15 anos. A percepção da frequência do fenómeno é superior no sexo feminino, existindo uma diferença estatisticamente significativa entre os sexos (p<0,001), não se observando diferença entre pré-adolescentes e adolescentes (p=0,262).

As principais causas de violência percepcionadas são o ciúme, a falta de confiança e o álcool e as drogas e, as consequências são os danos psicológicos, físicos e morte.

Bibliografia:

- Gover, A. R. (2004). Risky lifestyles and dating violence: a theoretical test of violent victimization. Jounal of criminal justice, 32, 171-180

- Bardin, Laurence (2009). Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70

- Machado, C; Matos, M; Moreira, A. (2003) -  Violência nas relações amorosas: Comportamentos e atitudes na população universitária. Psychologica. 33 pp.69-83

- Matos, M.; Machado, C.; Caridade, S.; Silva, M. J. (2006). Prevenção da violência nas relações de namoro: intervenção com jovens em contexto escolar. Psicologia: Teoria e Prática, n. 8(1): 55-75,

- Schraiber, L. B. & D'Oliveira, A. F. L. P. (1999). Violência contra a mulher: Interfaces com a saúde. Interfaces: Comunicação, Saúde, Educação, 5:11-27.


 

PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA NO NAMORO: O TEATRO FÓRUM COMO ESTRATÉGIA DE SENSIBILIZAÇÃO EM ADOLESCENTES

Ana Filipa dos Reis Marques Cardoso, Ângela Maria Sousa Figueiredo, Henrique Daniel da Silva Caetano, João Carlos Oliveira Neves, João Paulo de Matos Neves – Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

fcardoso@esenfc.pt

A técnica teatral é utilizada como um método de educação informal, que contribui para a compreensão do indivíduo e contextualização dos factos sociais. Procura a problematização de aspectos do quotidiano, com objectivo de fornecer uma maior reflexão das relações de poder, através da exploração de histórias entre opressor e oprimido. Nem sempre os canais formais de participação social são suficientes para detectar as contestações das pessoas uma vez que nem sempre se sentem desinibidas para se manifestarem, o que prejudica a discussão de temas importantes (Teixeira, 2007). É por isso importante procurar novos espaços e novas linguagens que favoreçam a discussão de opressões da vida quotidiana que muitas vezes não tem espaço para serem discutidos e por isso, resolvidos.

O teatro do oprimido procura, através de jogos, exercícios e técnicas teatrais, estimular a discussão e a problematização de questões do quotidiano com o objectivo de se reflectir sobre as relações de poder, pela exploração de histórias entre opressor e oprimido. Os dois objectivos do teatro do oprimido para Boal são a transformação do espectador de um ser passivo e depositário em protagonista da acção dramática e a não satisfação com a reflexão do passado, mas com a preparação do futuro. O teatro do oprimido tem várias técnicas, das quais destacamos o teatro imagem, o teatro jornal, o teatro invisível, o teatro legislativo e o teatro fórum.

Este estudo tem como objectivo conhecer a importância atribuída pelos adolescentes ao Teatro Fórum como estratégia de sensibilização para a violência no namoro. Esta sensibilização foi desenvolvida por pares educadores e integra-se no projecto (O)Usar & Ser Laço Branco da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal. Foi realizado um estudo descritivo com utilização de metodologia quantitativa e qualitativa. Os dados foram colhidos através de questionário no final da sensibilização em Escolas Secundárias. Participaram neste estudo 314 adolescentes de ambos os sexos com idades entre os 13 e 19 anos. O Teatro Fórum assumiu-se como uma estratégia motivadora, envolvente e inovadora. A lógica participativa/interactiva permitiu aos adolescentes serem protagonistas, o que contribuiu para melhor compreenderem o como e o porquê do fenómeno, procurando transformar as situações apresentadas no teatro. A proximidade da idade dos educadores criou um ambiente facilitador à comunicação e à aprendizagem. Os resultados são convergentes com outros estudos, quer no que se refere à transformação de espectadores em transformadores sociais, quer nas vantagens relacionadas com a educação pelos pares. As duas estratégias – teatro fórum e educação pelos pares – parecem potencializar-se e serem eficazes na sensibilização para a violência no namoro.

Bibliografia:

- Campbell, C., Jovchelovitch, S. (2000). Health, community and development: Towards a social psychology of participation. Journal of applied and community Social Psychology. 10: 255-270.

- Caridade, S., Machado, C. (2008). Violência sexual no namoro: relevância da prevenção. Psicologia. 22: 77-104.

- Freire, P. (2000). Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outras escritas. UNESP. São Paulo.

- Matos, M.; et al. (2006). Prevenção da violência nas relações de namoro: intervenção com jovens em contexto escolar. Psicologia: teoria e prática. 8: 55-75.

- Teixeira, T.M.B. (2007). Dimensões Sócio Educativas do Teatro do Oprimido: Paulo Freire e Augusto Boal. Tese de doutoramento em Educação e Sociedade. Departamento de Pedagogia Sistemática e Social - Universidade Autónoma de Barcelona, Barcelona. 335pp.

- Vala, J.(1999). A análise de conteúdo. Em : Silva, A. S.; Pinto, J. M. – Metodologia das Ciências Sociais. Edições Afrontamento, Porto.


COMPORTAMENTOS DE PERPETRAÇÃO E/OU VITIMIZAÇÃO NAS RELAÇÕES DE INTIMIDADE: PREVALÊNCIA NOS ESTUDANTES DE ENFERMAGEM

Helena Maria Mourão Felizardo, Cristina Maria Figueira Veríssimo, Luís António Rodrigues Paiva, João Rafael Mendes Tavares; Sara Filipa Amaral Soares – Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

helenaf@esenfc.pt

 

Introdução e objectivos: A violência nas relações de intimidade entre jovens tem sido alvo de investigação, demonstrando a importância da prevenção deste fenómeno. Neste sentido, o projecto “(O)Usar e Ser Laço Branco” da ESEnfCoimbra procura contribuir para informar, sensibilizar e educar jovens, através dos seus pares para prevenir a violência nas relações de intimidade. Assim, este estudo tem como objectivo identificar comportamentos de perpetração e/ou vitimização dos estudantes de enfermagem.

Metodologia: Realizou-se um estudo descritivo, aplicando-se o Inventário de Violência Conjugal (Matos, Machado e Gonçalves, 2000) a 126 estudantes do 3º ano do Curso de Licenciatura de Enfermagem da ESEnfCoimbra no ano lectivo de 2008/2009.

Para a recolha de dados foi solicitado autorização à Direcção da Escola e consentimento informado aos estudantes.

Resultados: Os resultados evidenciam que os estudantes maioritariamente não apresentam comportamentos de perpetração e/ou vitimização. No entanto, 15,1% (19) dos estudantes apresentam comportamentos de perpetração na relação de intimidade actual e 9,5% (12) em relações anteriores. Os comportamentos de vitimização foram referidos por 11,1% (14) na relação actual e 14,3% (18) em relações anteriores. Os comportamentos de perpetração e vitimização são mais prevalentes no sexo feminino.

Bibliografia:

- Matos M., Machado C., Caridade S., Silva M. J. (2006). Psicologia: Teoria e Prática –8 (1): 55-75 94.

- Lavoie, F.; Robitaille, L.; Research Hebert, M. (2000). Teen dating relationships and agression. Violence Against Women, v. 6, n. 1, p. 6-36.

- Machado, C.; Matos, M.; Gonçalves, M. (2004). E. C. V. C. - Escala de crenças sobre a violência conjugal. In: Almeida L.; Simões M., Machado C.; Gonçalves M. M. (Coords.), Avaliação psicológica. Instrumentos validados para a população portuguesa. v. II (pp. 127-140). Coimbra: Quarteto.

- Machado, C.; Matos, M.; Moreira, A. I. (2003). Violência nas relações amorosas: Comportamentos e atitudes na população universitária. Psychologica, n. 33, p. 69-83.

- Matos M., Machado, C., Gonçalves, M. M. (2000). E.C.V.C. – Escala de Crenças sobre Violência Conjugal. Braga: Universidade do Minho, Instituto de Educação e Psicologia.

- Caridade, S., e Matos, M. (2006). Violência na intimidade Juvenil: Da vitimização á perpetração. Análise Psicológica, 4 (XXIV): 485-493.