AGRESSÃO CONTRA A MULHER NO BRASIL - CID 10 CÓDIGO W50

Sandra Maria Becker Tavares; Jacqueline Fernandes de Cintra Santos - Instituto de Estudos em Saúde Coletiva – UFRJ/ Brasil

smbtav@gmail.com

 

Introdução: A violência contra a mulher é um fenômeno complexo, com “raízes profundas nas relações de poder baseadas no gênero....” e nas instituições sociais (Heise et al. 1994) e muitos casos sequer chegam a ser confirmados ou denunciados. A violência física contra a mulher assume formas de “agressões físicas como golpes, tapas, chutes e surras, tentativas de estrangulamento e queimaduras,...” (Day et al, 2003) e o CID 10 no grupo de causas externas, o subgrupo W50 (golpe, pancada, pontapé, mordedura infligida por outra pessoa), torna-se um caminho possível para identificar esta agressão.

Método: Este estudo descritivo, quantitativo, analisou dados obtidos no DATASUS sob enfoque epidemiológico e de morbidade, sobre o número de mulheres com internações hospitalares por local de residência pelo código W50 do CID10, em aglomerados urbanos brasileiros, de janeiro de 2008 a julho de 2009, usando dados do SIAH e software Excel.

Resultados: A violência fora das cidades é relevante, pois o maior número de internações ocorreram nas zonas rurais das regiões sul , centro-oeste e norte. Apenas as regiões sudeste e nordeste tiveram o maior número de casos em aglomerações urbanas.

Conclusão: Os fatores culturais baseados na organização social de gênero tão freqüente nos países latino americanos, acabam por naturalizar o fenômeno da violência que se destaca em áreas fora do aglomeramento urbano, onde a mulher em geral se ocupa de atividades domésticas e agrícolas, que podem determinar os índices encontrados. Outro ponto a ser destacado é a importância da visibilidade do setor saúde como um espaço privilegiado para identificar, tratar e imputar ações de prevenção deste fenômeno e caracterização de internações pelo CID10, código W50, que pode traduzir indicativos para elaboração e aperfeiçoamento de políticas públicas que minimizem os índices de violência e ampliem a cobertura de prevenção e acolhimento das vítimas.

Bibliografia:

- DAY, V.P. et al. Violência doméstica e suas diferentes manifestações. Revista Psiquiatria. RS, 25 (suplemento 1): 9-21, abril 2003.

- HEISE, L.; PITANGUY, J. & GERMAIN, A., 1994. Violencia contra la Mujer: La Carga Oculta sobre la Salud. Organização Panamericana de la Salud. Programa Mujer, Salud y Desarrollo. Washington, D.C.

- OPS (Organización Panamericana de la Salud)., 1994. Salud y Violencia: Plan de Acción Regional. División de Promoción y Protección de la Salud. Washington D.C.:OPS.


 

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NA PERSPECTIVA DA ENFERMAGEM

Marta Cocco - EENF/UFRGS/GESC. UFSM/CESNORS

Sandra Maria Cezar Leal – EENF/UFRGS/GESC. Unisinos. Brasil

Maria Filomena Mendes Gaspar – ESEL. Portugal

Marta Julia Marques Lopes – EENF/UFRGS/GESC. Brasil

martafwcocco@yahoo.com.br

sandral@cpovo.net

 

Muitas das mulheres em situação de violência atendidas nos serviços de saúde não são identificadas como tal, e o tratamento se restringe ao ferimento ou à lesão física. Considera-se que identificar as Representações Sociais da violência na compreensão das enfermeiras são elementos teóricos para análise, que poderão subsidiar a construção do processo assistencial, comprometido com a integralidade do atendimento à saúde. O objetivo é conhecer as dimensões significantes das representações sociais da violência contra a mulher (VCM) em um grupo de enfermeiras(os) alunas(as) de uma Escola Superior de Enfermagem de Lisboa. Estudo exploratório qualitativo com respaldo teórico das Representações Sociais. Participaram 150 enfermeiras(os) estudantes do Curso de Complemento de Formação em Enfermagem e da Licenciatura de Especialização em Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia. Dados coletados por questões estímulos, submetidos ao programa informático DataVic 4.3 (LEBART, 2008). Os universos semânticos associados à VCM, foram identificados pela Análise Fatorial de Correspondências Simples. Considerou-se os Fatores 1, 2 e 3. A maioria dos participantes são mulheres (87%) entre 31 e 49 anos(52%). As palavras mais evocadas referente ao estímulo“Quando penso em violência contra a mulher lembro-me de...” foram dor, agressão física, agressão psicológica, violação, sofrimento e agressão.  No F1 e F2 a palavra cobardia representou majoritariamente os dois fatores. No F1 está associada às palavras agressão psicológica e agressão física. No F2 Cobardia está associada à tristeza. No F3 a palavra Lesões associa-se a cobardia, agressão e maus-tratos o que ressalta o comprometimento psicológico e as lesões físicas resultantes agressão. A tristeza pode ser representada tanto pelo sentimento da mulher, quanto por tudo que envolve sua vida e família. Também se pode considerar que a covardia é uma das principais características do agressor e que na maioria das vezes o motivo da agressão é o ciúme (BARROSO, 2007). A VCM foi representada majoritariamente como uma ação de cobardia associada à agressão psicológica, agressão física, tristeza e maus tratos. A ação das enfermeiras frente à situação de violência ficou restrita ao universo consensual, no qual a revolta (F1), o conforto (F2) e o carinho (F3) representaram o estímulo “o que penso quando cuido de uma mulher que procurou o serviço de saúde por ter sido agredida pelo (ex) marido, (ex) companheiro, (ex) namorado”. Considera-se que a construção do universo reificado é resultante tanto do embasamento teórico sobre o tema, como do envolvimento institucional e inserção da violência contra a mulher na agenda dos serviços de saúde.

Bibliografia:

- BARROSO, Zélia. Violência nas relações amorosas: uma análise sociológica dos casos detectados nos Institutos de Medina Legal de Coimbra e do Porto. Lisboa: Edições Colibri/SociNova, 2007.

- LEBART, Ludovic. DtmVic 4.3. Paris: Telecom-Paristech. 2008. Disponível em: <http://ses.telecom-paristech.fr/lebart/> Acesso em: 14 dez. 2008.

MOSCOVICI, Serge. A representação social da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978.


 

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM ÁREAS RURAIS: REPERCUSSÕES PARA A SAÚDE

Marta Cocco - EENF/UFRGS/GESC. UFSM/CESNORS

Sandra Maria Cezar Leal - EENF/UFRGS/GESC. UNISINOS 

Marta Julia Marques Lopes - EENF/UFRGS/GESC

Graciliana Elise Swarowsky - EENF/UFRGS/GESC

Elisiane Gomes Bonfim - EENF/UFRGS/GESC. FUESPI

martafwcocco@yahoo.com.br

sandral@cpovo.net

 

O estudo aborda as representações sociais da violência contra a mulher no meio rural. Insere-se em um projeto financiado pelo CNPq 57/2008, desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul/Brasil. Principalmente, no meio rural a mulher está em situação de vulnerabilidade social, associada à falta de informação e ao precário acesso aos serviços estatais, bem como, as desigualdades de gênero, que afetam as diferentes dimensões da vida social, em particular a saúde, no enfrentamento das violências. Estima-se que de 25% a 50% das mulheres, em geral, usuárias dos serviços de saúde, convivem ou já conviveram com a violência (SCHRAIBER, 2003). Entretanto, na maioria das vezes não é identificada, o atendimento é direcionado aos sintomas, às queixas clínicas, e à parte do corpo supostamente comprometida (LEAL, LOPES, 2006). Analisar as implicações das representações sociais nas práticas de saúde no atendimento as mulheres em situação de violência, requer que a violência seja compreendida a partir dos serviços, nos quais são construídas as práticas terapêuticas. O objetivo geral é conhecer as representações sociais dos profissionais de saúde nos atendimentos, na repercussão dos encaminhamentos e sua resolutividade terapêutica, nos serviços de atenção básica de saúde da região. O estudo é embasado no referencial teórico-metodológico das Representações Sociais (MOSCOVICI, 1978). Realizado nas unidades básicas de saúde, da Metade Sul do Estado do Rio Grande do Sul/Brasil. Os participantes foram profissionais de saúde, que atuam na demanda dos atendimentos às mulheres. A coleta foi por meio de entrevistas e utilizou-se a análise de conteúdo. Os resultados apontam que a assistência às mulheres em situação de violência é reducionista, biologicista, com fragmentação da atenção, condutas justificadas pela falta de qualificação profissional, de suporte institucional e de equipes multidisciplinares capacitadas para o atendimento. Outro elemento identificado é a “invisibilidade” desse agravo para as mulheres do campo, visto que para alguns “esse problema não existe nesta área” apresentando-se como fenômeno “natural” do cotidiano, não relatado, não denunciado, considerado, em muitas ocasiões, evento previsível, conforme as condições sociais, econômicas e culturais em que acontecem. Considera-se que a rede de atenção básica de saúde necessita planejar ações com intervenção direcionada aos desencadeantes dos processos violentos, articulando suas estratégias com outros setores institucionais e da sociedade civil públicos e privados. Além disso, possibilitar espaços de interlocução, reconhecendo sua co-responsabilidade no enfrentamento da violência contra as mulheres em áreas rurais.

Bibliografia:

- LEAL, Sandra Maria Cezar; LOPES, Marta Julia Marques. Vulnerabilidade à morbidade por causas externas entre mulheres com 60 anos e mais, usuárias da atenção básica de saúde. Ciência, Cuidado e Saúde, v. 5, p. 309-316, 2006. 

- MOSCOVICI, Serge. A representação social da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978. 291 p.

- SCHRAIBER, Lilia; D’OLIVEIRA; Ana Flávia; HANADA, Heloísa; FIGUEIREDO, Wagner; COUTO, Márcia; KISS, Lígia ; DURAND, Júlia; PINHO, Adriana. Violência vivida : a dor que não tem nome. Interface - Comunic. Educ, v. 6, n. 10, p. 41-54, fev, 2003.


MÃES ADOLESCENTES QUE VIVEM NO MEIO RURAL: AS SITUAÇÕES DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Marta Cocco - EENF/UFRGS/GESC. UFSM/CESNORS. Brasil. 

Sandra Maria Cezar Leal – Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem pela EENF/UFRGS. Mestre em Enfermagem - EENF/UFRGS. Docente da Unisinos. Brasil.

Joannie dos Santos Fachinelli Soares – Enfermeira. EENF/UFRGS. Brasil.

Marta Julia Marques Lopes – Enfermeira. Doutora em Sociologia, docente Titular da EENF/UFRGS. Brasil.

Graciliana Elise Swarowsky – Enfermeira, Mestranda em Enfermagem, EENF/UFRGS. Brasil.

martafwcocco@yahoo.com.br

sandral@cpovo.net

 

As mulheres são um grupo populacional vulnerável à morbidade por Causas Externas (CEs) intencionais, em particular as violências. Estudos apontam a prevalência das agressões à mulher predominantemente no espaço doméstico, perpetrada por homens de sua relação (LEAL, LOPES, 2006). A violência doméstica tende a ser naturalizada pelo senso comum, refletindo as desigualdades nas relações de poder entre homens e mulheres. No meio rural, as mulheres encontram em piores situações de vulnerabilidade social, associadas à falta de informação e ao precário acesso aos serviços estatais, o que potencializa as assimetrias de gênero nas relações afetivas homem/mulher. Essas desigualdades afetam as diferentes dimensões da vida social – em particular a saúde no enfrentamento das violências, e reverberam de modo perverso nos dados sobre mortalidade e morbidade entre este segmento populacional (SOARES, 2009). Nesse sentido, o objetivo do estudo foi analisar as situações de violência a partir dos relatos de mães adolescentes residentes em meio rural. O estudo desenvolveu-se a partir de uma abordagem qualitativa, sustentando-se no método biográfico. Os sujeitos são 16 mães adolescentes residentes em meio rural, na região sul do Rio Grande do Sul/Brasil. A coleta de dados foi por meio de entrevistas biográficas temáticas. A análise dos dados ocorreu a partir da técnica de análise de conteúdo temático (MINAYO, 2007). As adolescentes entrevistadas relataram sofrer diferentes formas de violência, principalmente agressões psicológicas e físicas praticadas por seus companheiros. Os relatos apontam para a vulnerabilidade das adolescentes, em especial, das que tiveram casamentos impostos pelo fato de terem ficado grávidas. Além disso, a falta de oportunidade e alternativas para optarem por melhores situação de vida para si e para os filhos. Identificou-se que um sentimento de inconformidade com essas situações, entretanto os medos de represálias e do aumento da violência, associados com a falta de apoio da família de origem, as deixam impotentes para reagir. Considera-se que a invisibildade cultural da violência contra a mulher e a consequente “solidão” no enfrentamento dessa situação é vivida por muitas mulheres, o que atesta a permanência das assimetrias de poder entre os sexos e a ausência de políticas públicas que auxiliem nesses enfrentamentos. Salienta-se que no meio rural a vulnerabilidade ainda é reforçada pela dificuldade de acesso aos serviços estatais, em particular para as jovens.

Bibliografia:

- LEAL, Sandra Maria Cezar; LOPES, Marta Julia Marques. Vulnerabilidade à morbidade por causas externas entre mulheres com 60 anos e mais, usuárias da atenção básica de saúde. Ciência, Cuidado e Saúde, v. 5, p. 309-316, 2006.

- MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 10 ed. São Paulo - Rio Janeiro: HUCITEC-ABRASC, 2007.

- SOARES, Joannie dos Santos Fachinelli. Biografias de gravidez e maternidade na adolescência em assentamentos rurais de encruzilhada do sul / RS. Trabalho de Conclusão de Curso. Escola de Enfermagem Porto Alegre. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2009.


 

NECESSIDADES EM SAÚDE E PRÁTICAS PROFISSIONAIS DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA VOLTADAS PARA MULHERES QUE VIVENCIAM SITUAÇÕES DE VIOLÊNCIA

Rebeca Nunes Guedes; Rosa Maria Godoy Serpa da Fonseca; Emiko Yoshikawa Egry -  Universidade de São Paulo-Escola de Enfermagem

rebecanunesguedes@usp.br

rmgsfon@usp.br

 

Introdução e justificação: As mulheres que vivenciam violência têm problemas e necessidades de saúde específicas, de modo que as práticas de saúde dirigidas a este grupo devem tomar como objeto de trabalho as necessidades geradas por seus processos de vida. Cerca de 35% das queixas que levam as mulheres a buscar serviços de saúde estão relacionadas com algum tipo de violência e que uma em cada três mulheres assistidas na Estratégia Saúde da Família (ESF) já experimentaram algum tipo de violência ao longo de sua vida.

Objectivos: Conhecer a organização da ESF em relação às necessidades em saúde de mulheres que vivenciam violência e sua potência em contribuir com a emancipação da opressão de gênero e o enfrentamento da violência contra as mulheres.

Metodologia: Desenvolvido em uma Unidade Básica da ESF. Para a produção do material empírico foram feitas entrevistas com os profissionais de saúde que atuam na ESF. As entrevistas foram gravadas e transcritas, posteriormente, foram selecionados alguns núcleos de sentido na análise dos textos, tornando possível realizar um desenho global das práticas da ESF destinadas às mulheres que sofrem violência e o sentido que as necessidades em saúde assumem nesses espaços.

Resultados: O estudo revelou que os processos de trabalho voltados para as mulheres que vivenciam violência apresentam limites e possibilidades para o reconhecimento e as respostas às suas necessidades de saúde: limitações quanto à reprodução do processo medicalizador de necessidades e possibilidades relacionadas com a criação de vínculos entre profissionais de saúde e usuários.

Conclusões: Consideramos importante a capacitação dos profissionais da ESF na perspectiva de gênero para a prevenção e enfrentamento da violência; A criação de instrumentos que permitam a captação sistemática da violência nos serviços de saúde, para o desenvolvimento de práticas em saúde planejadas e executadas a partir das necessidades das mulheres que vivenciam violência, fenômeno que requer uma maior visibilidade, atenção específica e sua generificação.

Bibliografia:

- World Health Organization. Multi- country study on Women’s Health and domestic violence.WHO; Geneva; 2005.


 

VIOLÊNCIA ENTRE ADOLESCENTES EM UMA CAPITAL DA REGIÃO AMAZÔNICA

Rosilâine Keffer Delfino – Enfermeira formada pela Universidade Federal de Rondônia-Unir, Pesquisadora do Observatório de Violência-Obsvi/Unir  laynekeffer@yahoo.com.br

Maria Inês Ferreira de Miranda - Professora Doutora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Rondônia-UNIR e Coordenadora do Observatório de Violência-Obsvi/Unir

Bianca Col Debella – Discente do 6º Período do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Rondônia-UNIR

Renata Oliveira Restier – Discente do 6º Período do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Rondônia-UNIR

Marcuce Antônio Miranda dos Santos -Especialista em Saúde da Família pela Universidade Federal de Rondônia-Unir e Ministério da Saúde-MS

 

A violência é conceituada como uma violação da ordem e das regras da vida em comunidade. Ao definir violência no espaço escolar Abramovay e Rua (2002), afirmam que este fenômeno é antigo em todo o mundo e configura-se como um grave problema social, podendo ocorrer, como indisciplina, delinqüência, problemas de relação professor-aluno e aluno-aluno. Desse modo, este trabalho buscou avaliar o contexto de violência presente nas relações entre adolescentes do 2º ano do ensino médio de escolas públicas e privadas da cidade de Porto Velho, Rondônia, Brasil, a partir da investigação da magnitude do problema. A metodologia baseou-se no método quantitativo, e a coleta foi realizada através da aplicação do instrumento do tipo SURVEY ABRAMOVAY et. all 2002 e ABIPEME com um total de 236 estudantes. As análises estatísticas foram realizadas através do programa Epi Info 3.5.1. Os resultados encontrados mostram que a idade média dos escolares foi de 16,26 anos (± DP 1,03). Associando o nível de escolaridade dos pais com o aproveitamento escolar dos entrevistados que nunca reprovaram, 39,76% afirmam que os pais possuem o ensino médio completo, 54,24% responderam que ao sofrer uma agressão vingam-se com ajuda de amigos, 59,32% acreditam que a violência entre os jovens aumentou, 35,17% se classificaram como mestiço/pardo e da classe sócio-econômica C, quando questionados sobre quem não gostariam de ter como colega de classe 94,61% dizem não ter preconceito quanto a cor/raça, 83,44% dos estudantes consideram que o que aprendem na escola é importante para o futuro, 41,10% dos que autodeclararam ser bem de vida, de acordo com ABIPEME pertencem a classe social C e 27,12% que estão dentro desta classe não gostariam de ter colegas ricos. Com base nos resultados é possível afirmar que a violência é vivenciada e protagonizada pelos adolescentes no espaço escolar e que os mesmos agrupam-se por afinidades diante de situações de agressões perpetuando a violência neste meio. Assim, torna-se necessário trabalhar com os adolescentes, família,comunidade, educadores e saúde na perspectiva de minimizar os efeitos da violência que afeta esta parcela da sociedade.

Descritores: Adolescente, violência, escola.

Bibliografia:

- ABRAMOVAY, M.; RUA, M.G. Violência nas escolas. Brasília. Unesco, 2002.


 

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: A VISÃO SOBRE O SUPORTE E APOIO RECEBIDO EM SEU CONTEXTO SOCIAL

Ana Márcia Spanó Nakano -  Enfermeira. Professora Associada Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.

Liliane Nascimento de Santi - Odontologista. Professora Doutora. Universidade Federal do Pará

Angelina Lettiere - Enfermeira. Mestranda. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo

nakano@eerp.usp.br

 

Introdução: A atenção fragmentada e pontual às mulheres em situação de violência pouco responde as necessidades prementes das vítimas, o que requer esforços conjuntos de todos os setores sociais para a continuidade da atenção nos aspectos físico, emocional, social e jurídico.

Objectivos: Identificar como as mulheres em situação de violência constroem sua rede de apoio e suporte e como utilizam esses recursos.  

Metodologia: Estudo qualitativo realizado no Núcleo de Odontologia Legal do Instituto Médico Legal de Ribeirão Preto. Foram entrevistadas 57 mulheres vítimas de violência doméstica, tipo lesão corporal dolosa, atendidas no período de maio/2005 a outubro/2006, através da técnica de depoimento pessoal1. O estudo foi analisado com base na analise de conteúdo modalidade temática2. Os critérios éticos da Resolução 196/96 do CNS foram obedecidos com a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto-USP.

Resultados e discussão: A violência sofrida ocorreu, principalmente, dentro da residência em 41 mulheres e o agressor em 89,6% dos casos eram conhecidos, sendo que desses 36 constituíam-se de maridos e namorados. Depreenderam-se das falas três categorias temáticas: Exposição da violência: a ajuda ocorre, a princípio, em seu próprio meio social, junto à família e aos amigos, por se sentirem invadidas em sua privacidade. Os serviços de saúde: depende de como percebem a gravidade de seu estado físico de saúde, não atendendo as mulheres na integralidade de suas necessidades de saúde. A delegacia: diferentemente do que poderiam esperar, que a queixa fosse o marco de ruptura com sua condição de vítima, esta as colocam frente a uma realidade de desamparo e descrença na justiça social.

Conclusões: Os resultados mostram a desarticulação e inoperância das instituições sociais de suporte. É necessário pensar em estratégias que proporcionem cuidados integrais e humanizado que inclua atendimento multidisciplinar em conjunção com setores da sociedade. 

Bibliografia:

1. Rigotto RM. As técnicas e relatos orais e o estudo das representações sociais em saúde. Ciênc. saúde coletiva. 1998; 3(1): 116-129.

2. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70;1977


 

VIOLÊNCIA E SAÚDE: A COMPREENSÃO DOS SIGNIFICADOS PARA UM GRUPO DE MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA

Ana Márcia Spanó Nakano -  Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.

Liliane Nascimento de Santi - Universidade Federal do Pará

Angelina Lettiere -. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo

Marislei Sanches Panobianco - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo

nakano@eerp.usp.br

 

Introdução: A violência contra a mulher constitui-se no maior problema a ser enfrentado devido às seqüelas à saúde. Frente a esta realidade, no campo da saúde, os profissionais e cientistas, em conjunção com as redes, devem preocupar-se com a prevenção e intervenção para o combate à violência.

Objectivos: O objetivo foi identificar como a mulher vitimizada percebe as lesões provocadas pela agressão e a relação com sua saúde bucal e condição de saúde.

Metodologia: Estudo descritivo de abordagem qualitativa realizado no Núcleo de Odontologia Legal do Instituto Médico Legal de Ribeirão Preto. O universo empírico foi composto por 67 mulheres vítimas de violência doméstica que sofreram traumas faciais, atendidas no período de maio/2005 a outubro/2006. Os dados foram coletados por entrevistas semi-estruturadas através da técnica de depoimento pessoal1. O estudo foi analisado com base na análise de conteúdo modalidade temática2. Os critérios éticos da Resolução 196/96 do CNS foram obedecidos com a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto.

Resultados e discussão: Na análise depreende-se 3 categorias temáticas: Contexto da violência: configurada no espaço privado delimitando as relações de poder. Compreensão da violência sofrida: as marcas da violência despertam desejos de mudanças, colocando limites para si e para o outro nas relações, o que constitui um marco de transformação pessoal e social. Conseqüências da violência para a saúde: as mulheres não percebem as lesões/comprometimento a sua saúde, particularmente na saúde bucal. Há uma visão reduzida do que é saúde, ou seja, ter saúde é manter as capacidades básicas de trabalho e cuidado com os filhos.

Conclusões: Frente a este resultado é importante considerar a condição de fragilidade social as quais estas mulheres se encontram, para acolher e indicar caminhos para que consiga resgatar a condição de ser mulher inteira novamente.

Referências:

1. Rigotto RM. As técnicas e relatos orais e o estudo das representações sociais em saúde. Ciênc. saúde coletiva. 1998; 3(1): 116-129.

2. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70;1977.


Ambigüidades e Contradições no atendimento de Mulheres que sofrem violência¹.

Wilza Vieira Villela; Lucila A. Carneiro Vianna; Eleonora Menicucci de Oliveira -  UNIFESP

Lia Fernanda Pereira Lima; Danila C. Paquier Sala; Mariana Lima Vieira -  alunas bolsistas do projeto

lvianna@unifesp.br

 

Resumo: Este artigo discute o atendimento de mulheres em situações de violência por serviços de saúde e de segurança pública. Tem como pressuposto que as atuais políticas de enfrentamento da violência contra as mulheres prevêem ações destas duas instituições. Baseia-se na análise de três elementos que compõem a prática: o espaço físico, o fluxo dos serviços e a percepção dos profissionais em relação às usuárias. Seus dados foram obtidos em estudo qualitativo realizado em unidades básicas de saúde, serviços de emergência de hospitais públicos, delegacias especializadas de atendimento a mulheres e distritos policiais de uma região da cidade de São Paulo A coleta de dados incluiu observação não participante e entrevistas com profissionais.  Os resultados apontam que o atendimento às mulheres que sofrem violência é marcado por ambigüidades e contradições; os espaços e fluxos de trabalho são pouco adequados à tarefa tão sensível e a percepção dos profissionais é permeada por estereótipos de gênero. Isto sugere a que o enfrentamento da violência contra as mulheres exige a reconfiguração das práticas de trabalho, com educação permanente para os profissionais e mudanças nos processos de trabalho.   

Palavras-chave: violência institucional, violência contra as mulheres, serviços de saúde, serviços de segurança pública, promoção de saúde.

Bibliografia:

- D'OLIVEIRA, A. F. P. L. ; Kiss, L. B.; Schraiber, L. B . Possibilidades de uma rede intersetorial de atendimento a mulheres em situação de violência. Interface. Comunicação, Saúde e Educação, v. 11, p. 485-501, 2007.

- d’Oliveira A. F. P. L., DINIZ, S. G. , Schraiber, L. B.- Violence against women in health-care institutions: an emerging problem. The Lancet, Vol 359,  May 11, 2002

- MINAYO, Maria Cecília de Souza. Anthropological contributions for thinking and acting in the health area and its ethical dilemas. Ciênc. saúde coletiva  2008, vol. 13, no. 2, pp. 329-339

- Oliveira, M.E. et all – Os Serviços de Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência Sexual: um estudo qualitativo. Rev. Saúde Pública, vol. 35 (3), pp. 375-382, 2005.

- Santos, C.MD.  En-gendering the Police: Women's Police Stations and Feminism in Sao Paulo. Latin American Research Review - Volume 39, Number 3, pp. 29-55, 2004

- VILLELA, W. V.; LAGO, T.. Conquistas e desafios no atendimento das mulheres que sofreram violência sexual Cadernos de Saúde Pública, v. 23, n. 2, p. 471-475, 2007.


 

A VIOLÊNCIA NO ATENDIMENTO NOS SERVIÇOS DE SAÚDE

Vianna, L; Fernandes, ML; Oliveira, EM - Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP / Brasil

B D’A, Formigoni - Estudante do 4º ano de graduação em Enfermagem

lvianna@unifesp.br

 

Objetivos: Identificar que mecanismos produzem violência e como se dá na relação profissional-usuário e profissional-profissional nos Serviços de Saúde.

Método: estudo qualitativo, exploratório e analítico da percepção de usuários e profissionais que atuam em três unidades básicas de saúde, serviços de emergência e de ambulatórios de dois hospitais públicos de grande porte. Sujeitos: indivíduos atendidos em serviços de saúde; profissionais envolvidos no atendimento em unidades básicas de saúde e em hospitais de grande porte e ambulatórios da rede pública e pertencente à SPDM e Delegacia de Defesa dos Direitos das Mulheres do Distrito da Vila Mariana e Delegacias de Polícia do mesmo Distrito. Foram considerados: espaço físico, fluxo do atendimento e a perspectiva do profissional. Um questionário norteador da entrevista e os dados sobre violência foram transcritos dos Boletins de Ocorrência dos serviços.

Conclusões: o estresse causado pelas condições de trabalho se projetam na forma de agressão inter-pessoal e ao mal trato dos usuários por ocasião do atendimento. Percebeu-se a dicotomia entre as equipes profissionais e entre profissional e usuário. A violência aparente ou explícita aflora no mal atendimento. O componente emocional define o atendimento. O entendimento da violência pelos usuários relacionou-se com hostilidade sentida no relacionamento interpessoal com os profissionais, o descaso no atendimento pelos profissionais, pela falta de informação do estado de saúde e a falta de interesse quanto ao conhecimento do diagnóstico, significando a antítese do apoio que a instituição de saúde deveria oferecer ao usuário.

Palavras-chave: violência, atendimento nos serviços de saúde.

Bibliografia:

- D´OLIVEIRA, A. F. L., DINIZ, S.G., SCHRAIBER, L. B. & (2002) Violence against women in health-care institutions: an emerging problem.  The Lancet, v. 359, may 11.

- EISELE, WATKINS, MATTHEWS,  (1998) Workplace violence at government sites American J. of Industrial Medicine v. 33 Issue 5, p.485–492.

- GRANDEY , A.A., DICKTER D.N., HOCK, SIN PENG (2004) The customer is not always right: customer aggression and emotion regulation of service employees  J. of Organization Behavior  v25 -3 – 397-418.

- MCPHAUL, KATHLEEN M.,  LIPSCOMB, JANE A.  (2004) Workplace Violence in Health care: Recognized but not Regulated  www.nursingworld.org/MainMenuCategories/ANAMarketplace/ANAPeriodicals/OJIN/TableofContents/v .9 n.3 sept.04 Violencein healthcare.aspx .

- VIANNA, L.A.C; BONFIM, G.F.T. CHICONE, G. (2006) A auto- estima das mulheres que sofreram violências.. Revista Latino-Americana de Enfermagem (Ribeirão Preto). , v.14, p.695 - 701,

-VILLELA, W. ; VIANNA, L. A. C.; LIMA, L.F.P. SALA, D.P. VIEIRA, M.L.; OLIVEIRA, E. M. (2010) Ambigüidades e Contradições no Atendimento de Mulheres que sofrem Violência.  Saúde e Sociedade -  ISSN 0104-1290 (prelo)


QUANDO O MALTRATO LABORAL ATINGE A BARREIRA DA INTIMIDADE

Ana Lúcia da Silva João - Hospital Distrital de Santarém; Serviço de Cirurgia Geral; Enfermeira

António Fernando Saldanha Portela - Escola Secundária com 3º Ciclo de Tondela; Educação Especial; Professor de Educação Especial

alsjoao@hotmail.com

 

Introdução e justificação Muitos locais de trabalho desestruturados, competitivos e com uma má organização, desencadeiam a perversão em pessoas ávidas de poder e sem escrúpulos. Neste contexto, o maltrato infligido caracteriza-se pela degradação das condições de trabalho, na qual prevalecem condutas negativas com colegas em igual posição laboral, chefes ou subordinados. Mediante este tipo de violência existe sempre uma relação de poder entre os intervenientes, mesmo entre os que ocupam categorias laborais idênticas. O agressor consegue ser perverso, na medida em que escolhe as vítimas, Hirigoyen (2002) defende que a maioria destas são pessoas sem apoio e solitárias (pessoas solteiras, viúvas ou divorciadas). Em alguns casos, a agressão no local de trabalho atinge um âmbito privado, são exemplos característicos a difamação e o assédio sexual. Gonzaléz de Rivera (2005) define o assédio sexual como uma forma de abuso que inclui a agressão repetida e continuada de uma pessoa com motivações de ordem sexual, exercida a partir de uma posição de poder, física, mental ou hierárquica. Na opinião de Alkimin (2005) existem três elementos básicos caracterizadores do assédio sexual, eles são:

• Constrangimento consciente e contrário ao ornamento jurídico pois impõem à vítima atitude contrária à sua vontade;

• Finalidade de obtenção de vantagem ou favorecimento sexual;

• Abuso de poder hierárquico.

Assim, sensibilizar e alertar as pessoas para esta realidade assume uma importância fundamental na prevenção e detecção deste tipo de comportamentos, necessária para melhorar a vida profissional dos trabalhadores.

Objectivos: Avaliar a frequência de comportamentos de agressão que comprometem a vida privada da vítima; conhecer as causas de agressão mais referenciadas pelas vítimas de assédio moral no que concerne ao domínio da intimidade.

Metodologia: Trata-se de um estudo quantitativo e de carácter correlacional. O instrumento de colheita de dados utilizado, foi o questionário. Ele era constituído por um primeiro grupo de perguntas que visavam obter informações sócio-demográficas e profissionais e pela escala LIPT-60 (Leymann Inventory of Psychological Terrorization) de González de Rivera & Rodriguez Abuín. Os seis factores principais, constituídos por itens da escala LIPT-60 agrupados de acordo com a sua relação, foram denominados: Desprestígio laboral; Bloqueio ao progresso; Bloqueio à comunicação ou não comunicação; Intimidade encoberta; Intimidação manifesta; e Desprestígio pessoal.

Resultados: Mediante a aplicação do presente questionário a 216 sujeitos que exerciam a profissão de enfermagem num Hospital da Região Sul de Portugal, verificou-se que mais de metade da amostra (51,63%) já tinha observado colegas de trabalho a serem maltratados. No entanto, apenas 18,52% dos sujeitos em estudo assumiram sentir-se vítimas. Desta percentagem 35,65% referem que o agressor crítica a sua vida privada. Algumas causas apontadas para que a agressão ocorra no trabalho são o facto de “Ser Mulher/ser Homem” (12,82%) e de sofrerem assédio sexual (2,5%).

Conclusões: Considero ser necessário que todas as organizações actuem de forma a evitar estes comportamentos, permitindo que as relações interpessoais sejam uma fonte de satisfação e bem-estar baseadas na consideração e respeito mútuos. Afinal, mesmo que possamos afirmar ser incólumes e superiores àquilo que os outros fazem ou pensam acerca de nós, o certo, e como refere González de Rivera (2005), todos somos iguais no mais essencial, ou seja na condição de seres humanos.

Bibliografia:

 - Alkimin, Maria (2005). Assédio Moral na Relação de Emprego. Curitiba: Juruá Editora.

- González de Rivera (2005). El Maltrato Psicológico. Madrid: Editorial Espasa Calpe.

- Hirigoyen, Marie-France (1999). Assédio Coação e Violência no Quotidiano. Lisboa: Editora Pergaminho.

- Hirigoyen, Marie-France. (2002). O Assédio no Trabalho: Como distinguir a verdade. Lisboa: Editora Pergaminho.

- Leymann, Heinz (1990). Mobbing and psycological terror at workplaces. Violence and victims, vol. 5 pp 119 – 126.

- Leymann, Heinz (1996). La persécution au Travail. Paris: Seuil.

- Piñuel Y Zabala, Iñaki (2003). Mobbing: como sobreviver ao assédio psicológico no trabalho. São Paulo: Edições Loyola.


 

A VIOLÊNCIA CONTRA AS GRÁVIDAS: UM DESAFIO PARA OS PROFISSIONAIS DA SAÚDE NA ATENÇÃO BÁSICA EM SÃO PAULO

Dora Mariela Salcedo Barrientos; Vanessa Macedo Dias; Nathália Borçari; Emiko Yoshikawa Egry – Universidade de São Paulo

dorabarrientos@usp.br

 

Introdução e justificação: O período pré-natal é uma fase de muitas expectativas e de cuidados em saúde da mulher, no entanto, ela também convive com a violência doméstica, reprodução da realidade brasileira, onde 60% das mulheres que já engravidaram foram vítimas de algum tipo de violência doméstica por parceiro intimo no decorrer da vida conjugal e 20% destas sofreram de violência física grave (socos, queimaduras, ameaça ou uso de arma) durante a gravidez(1)(2)

Objectivos: O objetivo deste estudo foi compreender nos processos de trabalho da Estratégia de Saúde da Família (ESF) as formas e os instrumentos para o reconhecimento e enfrentamento de necessidades de saúde das mulheres grávidas vítima de violência doméstica na zona leste de São Paulo.

Metodologia: Estudo prospectivo, exploratório, descritivo e autorizado pelo Comitê de Ética. Foram realizadas 10 entrevistas com perguntas semi-estruturadas junto aos profissionais de saúde (médicos e enfermeiras), representativos da equipe da ESF da

Atenção Básica (AB). As entrevistas foram gravadas, transcritas e a analisadas segundo as recomendações de Bourdieu(3).

Resultados: Os entrevistados tinham como características: idade entre 28 e 62 anos, a maioria do sexo feminino, religião católica, evangélica e espírita; tempo de trabalho na AB entre 2 e 35 anos e no local da pesquisa entre 6 meses e 7 anos. Informaram não ter tido conteúdos acerca do enfrentamento da violência doméstica durante a sua formação e a educação permanente. Os resultados mostram temas relativos à: gravidez na adolescência como violência e auto violência: Postura de Julgamento do profissional; Valorização do auto-cuidado durante a gravidez na adolescência, identificando os processos protetores / destrutivos de estar grávida; Facilidades e dificuldades para o atendimento das gestantes.

Conclusões: A proposta teórica utilizada permite identificar ausência de instrumentos, planos de intervenção apropriada e oportuna, resgatando a alienação nesta temática considerando um nó critico, favorecendo a perpetuação deste fenômeno e, por conseguinte recomenda-se uma reavaliação dos conteúdos desta temática no currículo dos futuros profissionais da saúde.

Bibliografia:

 - D'OLIVEIRA, Ana Flávia Pires Lucas; SCHRAIBER, Lilia Blima; HANADA, Heloisa and DURAND, Julia. Atenção integral à saúde de mulheres em situação de violência de gênero: uma alternativa para a atenção primária em saúde. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2009, vol.14, n.4

- Minayo MCS. Violência e saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2006. 132p

- Bourdieu P. A miséria do mundo. Petrópolis: Vozes; 2007


 

VIOLÊNCIA E SAÚDE: COMPORTAMENTO VIOLENTO EM ADOLESCENTES

Carla Maria Viegas e Melo Cruz; Amadeu Matos Gonçalves; João Carvalho Duarte; Lídia do Rosário Cabral - Escola Superior de Saúde de Viseu

cruzcarla@hotmail.com

 

Introdução e justificação: É incontestável que um adolescente com condutas violentas, perturba toda uma dinâmica familiar. Mas será que ele não é a vítima das disfunções familiares preexistentes? Será que o comportamento violento não é um sinal de alerta? O adolescente, muitas vezes vulnerável, expõem-se a situações de vida até então desconhecidas, podendo adoptar condutas associais, como comportamentos violentos, com consequências para a saúde mental.

Objectivos: Propomo-nos analisar a influência das variáveis sócio-demográficas no comportamento dos adolescentes e Identificar a interferência das variáveis de contexto familiar no comportamento violento em adolescentes.

Metodologia: Tendo em consideração a nossa Questão de investigação “Será que o comportamento violento dos adolescentes é influenciado pelas variáveis sócio-demográficas e de contexto familiar?” Realizamos um estudo quantitativo, analítico, descritivo, correlacional, transversal e não experimental, numa amostra de 920 indivíduos de ambos os sexos com uma média de idades de 16 anos. Programa Informático: Statistical Package for Social Sciences 17.0; Para proceder à colheita de dados utilizamos um questionário e o Inventário de Hostilidade Buss-Durkee.

Resultados: Amostra constituída por adolescentes com: Idades entre os 17 e 20 anos (34,7%); Sexo feminino (54,5%); Frequentam o 10º ano (35,5%); A zona de residência familiar é a cidade (68,7%); Coabitam com os pais (82,9%); Estado civil dos pais, casados (86,3%); Habilitações literárias do pai, ensino superior (33,9%); Habilitações literárias da mãe, ensino superior (41,2%); Rendimento mensal dos pais, médio (53,6%). Podemos afirmar que as variáveis: sexo, local de residência, habilitações literárias do pai, habilitações literárias da mãe e o rendimento mensal, influenciam o comportamento violento em adolescentes.

Conclusões: Consideramos a escola, como meio promotor de saúde mental, sendo de importância primordial, a figura do professor de referência que poderá ser o director de turma ou o professor mais significativo para o aluno e encarregados de educação. Aquele, desempenha um papel fundamental no acompanhamento do indivíduo, desde idades mais precoces até á adolescência, identificando factores desencadeantes, intrínsecos e extrínsecos, do comportamento violento, intervindo junto dos jovens e família, evitando a evolução deste tipo de comportamento, promovendo a saúde mental e prevenindo a doença mental e consequentemente, a marginalidade e delinquência.

Bibliografia:

- CALAIS, Patricia [et al.] – Diferênca de sexo e escolaridade na manifestação de stress em adultos jovens. Psicologia: Reflexão e Crítica. Porto Alegre. 2003, vol16.

- FERREIRA, Maria da Graça Costa Aparício – Adolescentes diferentes? Uma perspectiva baseada no auto conceito. Revista investigação em enfermagem. Coimbra. Nº7 (Fevereiro): Edições Sinais Vitais, 2003

- FONSECA, Helena – Compreender os Adolescentes: um desafio para pais e educadores, 3ª ed. Lisboa: Presença 2005. 115 p. ISBN 972-23-2949-9

- ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE – Relatório Mundial da Saúde: Saúde mental: nova concepção, nova esperança, Lisboa: Ministério da Saúde, Direcção-Geral da Saúde, 2002, XXVI, 207 p. ISBN 972-675-082-2

- SPRINTHALL, Norman A. ; COLLINS, W. Andrew – Psicologia do adolescente: uma abordagem desenvolvimentista, 3ª ed Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003. 748 p. ISBN 972-31-0634-5.

- VALENTE, Maria Irene da Paz – Auto-conceito nos estudantes de enfermagem: sua relação com a vinculação e algumas variáveis sócio-académicas: Pensar enfermagem. Lisboa. Vol6, nº1 (Setembro), 2002, p.56-65.


 

GÉNESE DA VIOLÊNCIA E CONTEXTOS EXPRESSIVOS ÍNTIMOS

José Manuel de Matos Pinto – Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

jpinto@esenfc.pt

 

Introdução e justificação O presente trabalho aborda modalidades funcionais e disfuncionais da intimidade, tendo por base os processos primário e secundário de pensamento. O Processo Primário está presente ao nascer e tem como elemento central a descarga dos acúmulos de tensão por via da acção, enquanto o processo secundário introduz elementos como a atenção, a notação a indagação e a decisão antes da acção propriamente dita. A sexualidade mantêm-se predominantemente como processo primário mas a relação de objecto evolui com o processo secundário que promove e autonomiza o objecto relativamente ao sujeito tornando-se este um elemento a respeitar numa co-construção integra e íntima.

Objectivos: Fazer uma leitura dos processos de relação de objecto na intimidade; Distinguir os padrões de relação baseados na idealização/perseguição do objecto e os padrões realistas de relação de objecto.

Metodologia: Usamos uma metodologia qualitativa. Partindo de excertos de casos clínicos comparam-se os padrões de relação baseados na idealização/perseguição do objecto e os padrões realistas de relação de objecto.

Resultados: Os resultados dos processos acima descritos revelam que uma elaboração dos padrões de relação baseados na idealização/perseguição do objecto e a sua tranformação em padrões mais realistas de relação ajuda a estabelecer um enlace íntimo onde o objecto é aceite e respeitado para além do desejo do sujeito, tornando-se por essa via um objecto de amor.

Conclusões: Construir uma relação de amor, tendo por base o respeito pelo outro, apela ao desenvolvimento do processo secundário que orienta a pulsão (agressiva e amorosa) e possibilita a construção duma área de criação expansiva em que o todo é mais que a soma das partes, contrariamente ao enlace onde predomine o processo primário (sobretudo impulsivo), onde o todo pode ser menos que a soma das partes.

Bibliografia:

- FREUD, S. (1980a). Três ensaios sobre a sexualidade. Edição Standard Brasileira das obras completas de Sigmund Freud, Vol VII. Rio de Janeiro, Imago Editora.

- FREUD, S. (1980b). Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental. Edição Standard Brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Vol XII. Rio de Janeiro, Imago Editora.

- FREUD, S. (1980c). Sobre o narcisismo: uma introdução. Edição Standard Brasileira das obras completas de Sigmund Freud., Vol XIV. Rio de Janeiro, Imago Editora.

- GROTSTEIN, J. (1999). O buraco Negro. Lisboa, Climepsi Editores.

- WINNICOTT, D. (1989). Tudo Começa em Casa. São Paulo, Editora Martins Fontes.

- WINNICOTT, D. (1993). Da pediatria à psicanálise, Textos seleccionados. Rio de Janeiro, Editora Francisco Alves.


 

HUMANIZAÇÃO DO ATENDIMENTO ÀS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL  – CURITIBA, PARANÁ, BRASIL

Hedi Martha Soeder Muraro - médica-pediatra e coordenadora do programa,  Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba, Paraná, Brasil; Centro de Epidemiologia                                                                                                                              

hedimuraro@click21.com.br

 

Introdução e Justificação do tema: O atendimento humanizado às vítimas de violência sexual pressupõe que a ênfase policial nos casos de violência sexual seja substituída por uma visão de prevenção de agravos e redução de danos (OLIVEIRA, 2005).

Objectivos: O Programa Mulher de Verdade, implantado em 2002 no município de Curitiba, visa a humanizar a assistência às vítimas de violência sexual, com atendimento nas primeiras 72 horas nos hospitais de referência, mediante ações integradas e simultâneas, de ordem psicossocial, de ordem pericial e de ordem clínica. As vítimas maiores de 12 anos são, assim, encaminhadas para dois hospitais gerais e as vítimas menores de 12 anos para o hospital infantil. (CURITIBA, 2008).

Metodologia:        Com a chegada da vítima ao Hospital é solicitada (via fax) à delegacia especializada a realização do exame de corpo de delito; é requisitado o plantonista do Instituto Médico-legal; realizam-se o exame pericial e o exame clínico; são feitas as coletas de exames periciais e de exames laboratoriais; tomam-se as medidas de anticoncepção de emergência e de profilaxia de DST / AIDS e Hepatite B (BRASIL,2005) (BRASIL,2007). Em continuidade, faz-se o registro em prontuário médico; emite-se a notificação obrigatória; dá-se o atendimento psicossocial; encaminha-se a vítima para as delegacias especializadas para efetuar o boletim de ocorrência; procede-se ao acompanhamento clínico e laboratorial durante seis meses.

Resultados: A análise do banco de dados demonstrou que, no período de 2002 a 2008, foram atendidos 3.387 casos de violência sexual no prazo de até 72 horas da ocorrência. Observou-se que o sexo feminino representa a maioria das vítimas de violência sexual e a faixa etária mais acometida foi de 10 a 19 anos, representando 41,9% dos atendimentos. A maioria das vítimas procurou o serviço até 72 horas da ocorrência possibilitando a imediata intervenção clínica e pericial. Neste mesmo período, 60 mulheres engravidaram em decorrência do estupro; todas chegaram ao serviço de referência após as 72 horas e 56,6 % dessas mulheres optaram pela interrupção de gravidez.

Conclusões: Os resultados demonstram a eficácia do método adotado, originado em inovações na gestão da vigilância de agravos e doenças não transmissíveis e da promoção da saúde. Tais inovações foram fruto da determinação de humanizar o atendimento às vítimas de violência sexual, mediante aplicação de um processo com ações integradas e simultâneas desde a definição do fluxo diferenciado de atendimento até as diversas ações de ordem pericial, psicossocial e clínica (BEDONE, 2007).

Bibliografia:

- BEDONE, A.J.; FAÚNDES, A. Atendimento integral às mulheres vítimas de violência  sexual: Centro de Assistência Integral à Saúde da Mulher, Universidade Estadual de Campinas. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23 (2):456-467, fev.2007 . Disponível em  http://www.scielo.br/. Acesso em: mar.2010.

- CURITIBA. Prefeitura Municipal. Atenção à Mulher em Situação de Violência. 3. ed., 2008.                    Também disponível  em  http://www.curitiba.pr.gov.br/. 

- BRASIL. Ministério da Saúde. Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes. Norma técnica, Brasília, 2007

_______. Ministério da Saúde. Anticoncepção de Emergência. Perguntas e Respostas para os Profissionais de Saúde. Brasília, 2005

- OLIVEIRA, E. M. et al . Atendimento às mulheres vítimas de violência sexual: um estudo qualitativo. Rev. Saúde PúblicaSão Paulo,  v. 39,  n. 3, jun. 2005. Disponível em http://www.scielo.br/scielo. Acesso em: mar. 2010.


 

VIOLÊNCIA NA GRAVIDEZ: CONSEQUÊNCIAS PARA O BEBÉ

Almeida C.; Sá E.; Cunha F.

clementina.almeida@gmail.com

 

Introdução e justificação do tema: A evidência mostra que a o período de gravidez é crucial para a dinâmica da relação mãe-bebé e para o desenvolvimento do bebé. A violência durante este período têm sido associada a alterações no desenvolvimento da relação mãe-bebé e no desenvolvimento dos bebés.

Objectivos: O objectivo do nosso estudo é avaliar o impacto da violência durante o período de gravidez no desenvolvimento da relação mãe-bebé e no desenvolvimento cognitivo da criança, em idade precoce.

Metodologia: Foi conduzido um estudo prospectivo em 204 grávidas no terceiro trimestre de gravidez e de seus bebés aos quatro meses, nos serviços de Obstetrícia e Pediatria do Hospital Pedro Hispano, entre Março de 2008 e Dezembro de 2009.

A recolha de dados foi realizada com a Conflict Tactic Scale (Straw,1979), Maternal Fetal Atachment Scale (Cranley,1981), Maternal Adjustment and Maternal Attitudes (Kumar,1984), Brief Symptom Inventory (Derogatis & Melisaratos, 1983) e o Inventário de Depressão Clínica (Vaz-Serra, 1994) no terceiro trimestre de gravidez e através da  Escala de Desenvolvimento Mental Griffiths (Griffiths, 1976) nos bebés, aos quatro meses de idade.

Na análise descritiva da amostra analisada, foram aplicadas estatísticas de sumário apropriadas. As variáveis foram descritas através de frequências absolutas e relativas, mínimo e máximo para as variáveis categóricas e as medidas de tendência central e de dispersão para as variáveis numéricas (média e desvio padrão para as variáveis com distribuição normal, mediana, mínimo e máximo para as variáveis com distribuição assimétrica). Foram efectuados os testes de hipóteses t- student e ONE WAY ANOVA para estudar as diferenças entre os grupos. A análise foi efectuada utilizando o programa de análise estatística PASW Statistics18.0, sendo considerado um nível de significância de 0,05 em todos os testes de hipóteses.

Resultados: Os resultados mostraram a presença de níveis de frequência elevados no que concerne à violência durante a gravidez (57,81%). Foram encontradas diferenças estatísticas significativas respeitantes à patologia materna entre os grupos de mães vitimas (p <0,05), assim como em relação ao desenvolvimento mental dos bebés segundo algumas sub-escalas na Escala de Desenvolvimento Mental de Griffiths  entre alguns  grupos de bebés (p =0,05). 

Conclusões: Este estudo sugere que, a presença de violência durante a gravidez  está associada a alterações na relação mãe-bebé.

A serem confirmadas estas conclusões por pesquisas futuras, a identificação de padrões de violência e de psicopatologia em mulheres durante a gestação pode fornecer uma importante oportunidade para iniciar um programa de apoio para optimizar a relação mãe-bebé e, consequentemente, o desenvolvimento mental dos seus bebés. As nossas conclusões enfatizam a importância da atenção  prestada pelos diversos profissionais que trabalham com mulheres grávidas, ao impacto da violência familiar no período da gravidez, o que justificará a implementação de adequadas medidas de rastreio/diagnóstico, de prevenção, terapêuticas e de protecção/acompanhamento, fundamentais para a mãe e bebé.

Bibliografia:

- Bogat G. A. et al. (2004). The Impact Of Domestic Violence On Mothers’ Prenatal Representations Of Their Infants. Michigan State University. Infant Mental Health Journal, Vol. 25(2), 79–98

- Goodwin, M. et el. (2001).Pregnancy Intendedness and Physical Abuse Around the Time of Pregnancy: Findings from the Pregnancy Risk Assessment Monitoring System, 1996–1997. Maternal and Child Health Journal, Vol. 5, No. 3.

- Huth-Bocks A. et al. (2004). The Impact Of Domestic Violence On Mothers’ Prenatal Representations Of Their Infants. Infant Mental Health Journal, Vol. 25(2), 79–98.

- Martin S.,Griffin J. et al. (2001).  Stressful Life Events and Physical Abuse Among Pregnant Women in North Carolina. Maternal and Child Health Journal, Vol. 5, No. 3.

- Sipsma, E. et al. (2000). Sexual Aggression Against Women by Men Acquaintances: Attitudes and Experiences among Spanish University Students.The Spanish Journal of Psychology.Vol. 3, No. 1, 14-27.


 

MULHERES SOBREVIVENTES DE VIOLÊNCIA EXERCIDA POR PARCEIROS ÍNTIMOS: ENFERMAGEM E PROCESSO DE TRANSIÇÃO PARA UMA VIDA SEM VIOLÊNCIA

Maria Neto da Cruz Leitão – Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

mneto@esenfc.pt

Margarida Maria Vieira – Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa

 

Introdução / Justificação - A violência exercida sobre a mulher por parceiros íntimos (VPI) afecta uma em cada três mulheres e é considerado um dos problemas de saúde pública mais difundidos no mundo actual (OMS, 2002). O Plano Nacional de Saúde 2004 – 2010 refere que a violência doméstica é um dos problemas específicos das mulheres portuguesas e que as respostas de saúde para a violência têm sido manifestamente inadequadas. Sendo um problema complexo que necessita de um atendimento em rede, ao sector da saúde é solicitado que faça uma abordagem integral da situação de vida/saúde da mulher e identifique, o mais precocemente possível, as situações de VPI. Os enfermeiros, sendo os profissionais de saúde mais perto das pessoas podem influenciar o fortalecimento da capacidade da mulher para exercer um maior controlo sobre as suas condições de vida e a não abordagem da situação pode fazer perder a oportunidade para ajudar ou prevenir futuras situações de violência, incluindo a morte (ICN, 2001). Conhecer e compreender os factores que impedem e facilitam os processos de transição vividos pelas mulheres permite equipar os enfermeiros para as poderem ajudar a transitar para uma vida sem violência.

Objectivos - Compreender e identificar os padrões de transição vividas pelas mulheres sobreviventes à violência exercida por parceiros íntimos, com vista a desenvolver uma teoria prescritiva de médio alcance.

Metodologia - Utilizamos a grounded theory por permitir a teorização a partir de dados sistematicamente recolhidos, analisados e comparados. Foram recolhidas narrativas de mulheres que viveram situações de VPI, assumindo as entrevistas individuais a principal fonte de informação. Foram cumpridas as recomendações do ICN e da OMS em matéria de ética e segurança na investigação ligada à violência doméstica.

Resultados - Os resultados preliminares da análise permitiram-nos identificar um padrão de transição constituído por 4 fases: Entrada: Enamora-se e fica aprisionada; Manutenção: Auto-silencia-se, consente e permanece na relação; Necessidade de mudança e decisão de saída da relação: Enfrenta o problema e luta pelo resgate; Saída: Reconstrução da sua identidade e (Re)Encontro de uma nova vida.

Conclusões - Podermos concluir que a violência influencia negativamente a vida/saúde, e bem-estar das mulheres. O ambiente sociocultural, os recursos relacionais e a identidade pessoal moldam a experiência de transição e assumem-se como estruturantes para a reconstrução da identidade. Várias condições de transição são sensíveis aos cuidados de enfermagem.

Palavras-Chave: Violência exercida por parceiros íntimos; Saúde; Transição; Enfermagem;.

Bibliografia:

- International Council of Nurses (ICN) (2001). Dossier de promoção da luta contra a violência. Geneve: ICN.

- Kralik, D. (2002). The quest for ordinariness: transition experienced midlife women living whit chronic illness. Journal of Advanced Nursing 39 (2), 146-154.

- Kralik, D.; Visentin, K.; van Loon, A. (2006). Transition: a literature review. (Integrative literature and meta-analyses). Journal of Advanced Nursing 55 (3), 320-329.

- Lopes, M. J. (2003). A metodologia da Grounded Theory. Um contributo para a conceitualização em enfermagem. In Revista Investigação em Enfermagem, nº 8 – Agosto: 63 – 74.

- OMS (2002). Rapport mondial sur la violence et la santé. Genève: Organisation Mondiale de la Santé.

- OMS (2005). Estúdio multipaís de la OMS sobre salud de la mujer y violência doméstica: primeros resultados sobre prevalência, eventos relativos a la salud y respostas de las mujeres a dicha violência. Genebra: OMS (Departamento Género, Mujer e Salud).

 - Portugal, Ministério da Saúde (2004). Plano Nacional de Saúde: orientações estratégicas para 2004-2010. Lisboa: Ministério da Saúde

 - Strauss, A. L.; & Corbin, J. (1990, 1º ed.; 1998, 2ª ed.). Basics of Qualitative Research: Techniques and Procedures for Developing Grounded Theory. 2ª Ed. Sage Publications.