VIOLÊNCIA E AGRESSIVIDADE: PARTICIPAÇÃO DE MULHERES ENCARCERADAS

Zeyne Alves Pires Scherer - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP

Edson Arthur Scherer - Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto – FMRP/USP; Neurociências e Ciências do Comportamento; Médico Psiquiatra

scherer@eerp.usp.br

 

Introdução e justificação:Experiências traumáticas de violência, especialmente abuso físico ou sexual, com freqüência compõem a história pessoal pregressa de mulheres internas em presídios.

Objectivos: Este estudo objetivou verificar o tipo de participação que uma amostra de 15 detentas da Penitenciária Feminina de Ribeirão Preto (SP) tiveram em situações de violência.

Metodologia: Pesquisa qualitativa, exploratória descritiva, mediante entrevista semi-estruturada.

Resultados: Como vítimas: agressões físicas (luta corporal), abusos sexuais e maus tratos nas relações interpessoais (rejeição, depreciação, discriminação, desrespeito, intimidação, opressão, cobrança ou punição exageradas). Como perpetradoras: agressões físicas, homicídios, abusos sexuais e maus tratos em relações interpessoais. Estas práticas ocorreram tanto dentro do ambiente doméstico quanto fora, por motivos corriqueiros e sem grande valor, com conivência e cumplicidade de familiares. Mencionam a violência como um problema de origem social, fruto das desigualdades, da falta de acesso à educação e oportunidades de emprego. Esta cadeia de exclusões legitima o envolvimento em práticas violentas (homicídio, roubo e tráfico de drogas). Apontam o uso abusivo de álcool e drogas como principal motivador de agressões e crimes. Negligência ou abandono parecem não se constituir como formas de violência para estas mulheres.

Conclusões: Os resultados do nosso estudo indicam que as mulheres entrevistadas estão e estarão em contato permanente com o fenômeno da violência, antes, durante e, possivelmente, após o cárcere.

Bibliografia:

- BREWER-SMYTH, K. Women behind bars: could neurobiological correlates of past physical and sexual abuse contribute to criminal behavior? Health Care for Women International, v. 25, n. 9, p.835–52, 2004.

- DeHART DD. Pathways to prison: impact of victimization in the lives of incarcerated women. Violence Against Women, v. 14, n. 12, 2008, p. 1362-1381.

- FALBO G, CAMINHA F, AGUIAR F, ALBUQUERQUE J, CHACON ML, MIRANDA S, MARQUES S. Incidence of child and adolescent abuse among incarcerated females in the northeast of Brazil. Journal of Tropical Pediatrics, Vol. 50, No. 5, 2004.

- KRUG, E.G.; DALHBERG, L.L.; MERCY, J.A.; ZWI, A.B.; LOZANO, R. World report on violence and health. Geneva: World health Organization, 2002.

- MINAYO, M.C.S. Violência: um velho-novo desafio para a atenção à saúde. Rev Bras Educ Médica, v. 29, n. 1, p.55-63, 2005.

- REED E, RAJ A, FALBO G, CAMINHA F, DECKER MR, KALIEL DC, MISSMER SA, MOLNAR BE, SILVERMAN JG. The prevalence of violence and relation to depression and illicit drug use among incarcerated women in Recife, Brazil. International Journal of Law and Psychiatry 32 (2009) 323–328.