A professora de Enfermagem Kaarina And, da Pirkanmaa University of Applied Sciences, instituição de ensino superior finlandesa, volta, esta tarde (14h30, no Pólo B da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra), a proferir a conferência "Validação Terapêutica: uma abordagem para cuidar de doentes com demências". Desta feita, a sessão é dirigida a profissionais de saúde.
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Ontem, falando exclusivamente para professores da ESEnfC, a especialista em cuidados geriátricos deu variadíssimos exemplos de cuidados que os enfermeiros devem ter com pessoas que perderam competências linguísticas, que têm uma memória de curta duração, que repetem histórias e perguntas, que já não reconhecem os elementos da família, que estão desorientadas... Mas que, simultaneamente, dizem estar bem e que não precisam de ajuda. Afinal, a grande questão é saber como chegar àquele idoso. |
Quando o doente acusa as outras pessoas de lhe roubarem o dinheiro, ou a roupa, exemplificou Kaarina And, em vez de se lhe responder "Não. Eu não lhe roubei o dinheiro!", é preferível comentar: "O quê? Não consegue encontrar o seu dinheiro? Que sensação horrível!"
Quando se acompanha a pessoa demente à casa de banho, devemos ser concretos. Em vez do "Sente-se, por favor", que a pode levar a interrogar "Onde?", devemos dizer: "Sente-se, por favor, na sanita".
Quando, por necessidade de se sentir útil, a pessoa fala do (antigo) emprego, embora já esteja aposentada há uma década, o enfermeiro tem de respeitar e não dizer a toda a hora que o doente está reformado.
Quando se visita o doente, em vez de um intrincado "Advinha quem chegou?", porque é difícil para este idoso identificar os outros, devemos, antes, dizer quem somos. Poderá, quiçá, evitar-se a resposta: "Eu não sou o teu marido. Sou o teu filho."
De acordo com a professora Kaarina And, deve prevalecer uma atitude de respeito e empatia para com o adulto idoso. É que não se pode mudar esta pessoa, que já não tem competências cognitivas e motivação para isso, e que se sente feliz como está.
Em Portugal, há cerca de 92 mil pessoas com demência e a tendência é para um aumento, devido ao envelhecimento da população.
«Esta complexidade no cuidar da pessoa idosa com demência constitui um constante desafio na procura de novas formas de comunicar, permitindo aos diferentes actores (pessoa idosa/ cuidador e enfermeiro) construir uma relação que promova o desenvolvimento de capacidades», afirma, por sua vez, a coordenadora da Unidade Científico Pedagógica (UCP) de Enfermagem do Idoso da ESEnfC, Professora Maria de Lurdes Almeida.