Um estudo de mestrado realizado pelo bolseiro de investigação Paulo Costa, cuja dissertação foi defendida na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), vem revelar que 92% dos enfermeiros partilha o material clínico de bolso com outros enfermeiros, médicos, técnicos superiores de saúde e assistentes operacionais, sendo que todos já o reutilizaram com múltiplos utentes.
De acordo com este trabalho do também enfermeiro Paulo Costa, os procedimentos clínicos, com recurso a material de bolso reutilizado, mais mencionados pelos inquiridos nesta análise foram a punção venosa periférica, a otimização de cateter venoso periférico e a otimização de sonda nasogástrica e tratamento de feridas.
A amostra em estudo foi constituída por 50 enfermeiros que prestam cuidados diretos a utentes, recrutados em quatro serviços de medicina interna de um hospital da zona centro do país.
O trabalho de investigação mostra, também, que «um número significativo de enfermeiros higieniza estes equipamentos, ainda que técnicas e produtos utilizados não estejam sistematizados nas unidades».
Todavia, ao nível da avaliação microbiológica realizada – entre março e maio de 2017, foram colhidas 300 amostras microbiológicas para análise laboratorial, num processo de colheita de dados que resultou da conjugação de três projetos de investigação –, «verificou-se uma taxa de presença microbiana de 53%, sendo o garrote, o rolo de adesivo e a tesoura que maior presença de microorganismos apresentaram», afirma o enfermeiro Paulo Costa.
Por cada enfermeiro, foram colhidas duas amostras ao nível das mãos, duas amostras ao nível da farda clínica e duas amostras de dois materiais de bolso selecionados de acordo com o respetivo potencial de risco para o utente e para o profissional.
O bolseiro de investigação, atualmente a trabalhar num projeto inscrito na Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem, da ESEnfC, afirma ser «realidade vigente em muitas das unidades de cuidados em contexto nacional» situações em que «o material clínico que os enfermeiros transportam e armazenam no seu bolso da farda clínica não respeita princípios cruciais de boas práticas, seja a nível da sua higienização, seja na reutilização entre utentes e partilha entre profissionais».
Algumas recomendações
Para o autor do estudo, «a utilização de materiais clínicos de uso único descartáveis ou a introdução de materiais reutilizáveis, que cumpram requisitos específicos de normas nacionais e internacionais de referência, devem ser promovidas pelos gestores em saúde, dado o seu impacto na qualidade e segurança dos cuidados prestados».
Paulo Costa considera necessário «identificar, avaliar e hierarquizar os riscos associados à gestão de material clínico de bolso, promovendo ações de melhoria a desencadear nos diferentes níveis organizacionais», sendo que «a formação contínua a nível da prevenção e controlo de infeções associadas aos cuidados de saúde deve ser transversal a todos os profissionais».
«Devem ser criados esforços na construção e disseminação de diretrizes institucionais neste âmbito temático, devidamente acessíveis em locais-chave das unidades, de modo a uniformizar a higienização destes equipamentos», defende, ainda, o enfermeiro residente na Figueira da Foz.
O projeto de mestrado do enfermeiro Paulo Costa, intitulado “Gestão de Material Clínico de Bolso por Enfermeiros: Fatores Determinantes e Avaliação Microbiológica”, foi orientado pelos professores doutores João Graveto (ESEnfC) e Helena Albano (Universidade Católica Portuguesa - Centro de Biotecnologia e Química Fina).
A defesa do ato público foi concluída no dia 16 de outubro, tendo o investigador obtido a classificação de 19 valores.
Os resultados deste trabalho foram divulgados na European Scientific Conference on Applied Infectious Disease Epidemiology, realizada de 6 a 8 de novembro em Estocolmo.
[2017-11-24]