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Luís Loureiro apresenta o curso Inovação em Saúde: Tecnologias Digitais e Inteligência Artificial

"A IA PODE LIBERTAR O ENFERMEIRO DE TAREFAS REPETITIVAS E BUROCRÁTICAS E AJUDAR O PROFESSOR A CRIAR PERCURSOS DE APRENDIZAGEM PARA CADA ESTUDANTE"


Começa, no final de outubro, uma nova pós-graduação na Escola Superior de Enfermagem da Universidade de Coimbra (ESEUC), em Inovação em Saúde: Tecnologias Digitais e Inteligência Artificial.
Dirigido a docentes da instituição e a enfermeiros no ativo, o curso, com um regime de ensino b-learning (presencial e à distância), decorre ao longo de 16 semanas, às quintas e sextas-feiras. A apresentação de candidaturas realiza-se entre hoje e dia 15 de setembro. 
Luís Loureiro, professor na ESEUC que coordena a pós-graduação, responde-nos a algumas questões relacionadas com a razão de ser desta oferta formativa financiada pelo PRR - Plano de Recuperação e Resiliência (programa de investimento Impulso Mais Digital) e pela União Europeia (fundos NextGenerationEU).

 

Professor Luís Loureiro, o que inspirou a Escola de Enfermagem a criar a pós-graduação Inovação em Saúde: Tecnologias Digitais e Inteligência Artificial? 
A conceção da pós-graduação surgiu da necessidade de preencher uma lacuna formativa nesta área das tecnologias da saúde (TS) associadas à inteligência artificial (IA). Daí a criação de uma pós-graduação especializada e com elevada aplicabilidade prática no contexto da Enfermagem, alinhada com as exigências e inovações do setor da saúde digital e, inclusive, na capacidade transformativa associada à educação em Enfermagem.
Foi realizada uma pesquisa sistemática sobre as principais iniciativas formativas em termos nacionais e internacionais neste âmbito, vindo a constatar-se que existem iniciativas, sobretudo no contexto internacional. Essas iniciativas contribuíram também para a conceção da nossa proposta.

Qual é a visão a longo prazo para o impacto deste curso nos profissionais de saúde?
A visão a longo prazo decorre daquela que é a nossa ambição, nomeadamente posicionar os professores da ESEUC e enfermeiros como líderes de uma transformação que adote as TS, nomeadamente a IA, nos contextos clínicos que são simultaneamente espaço de cuidados e de formação dos estudantes de enfermagem.
Como exemplo, um enfermeiro pode utilizar a IA para obter rapidamente informação sintetizada para apoiar o seu processo de tomada de decisão. Ao aprender a utilizar recursos e conhecer as suas limitações, o enfermeiro pode recorrer a ferramentas que sintetizam a literatura científica de forma quase imediata, fornecendo-lhe não apenas uma resposta a uma dúvida clínica, mas também a indicação das fontes que sustentam essa resposta.
Desta forma, consegue avaliar, por exemplo, se uma intervenção é mais segura ou mais eficaz para determinada situação, mantendo o espírito crítico e a validação científica necessárias à prática profissional.
O objetivo é que os formandos não sejam meros utilizadores, mas agentes de mudança, capazes de integrar soluções digitais de forma ética e eficaz no ensino da Enfermagem, otimizando os cuidados à pessoa, promovendo a eficiência dos sistemas de saúde e impulsionando a inovação.

O curso é financiado pelo PRR. De que forma este financiamento se traduz em mais-valias concretas para os alunos, para além do apoio financeiro, e como garante a sua sustentabilidade e relevância a longo prazo?
A iniciativa que partiu da Direção da ESEUC foi no sentido de capacitar o corpo docente e os enfermeiros para a necessidade de utilizar estas ferramentas supletivas de trabalho no seu quotidiano pessoal e profissional. Trata-se, de facto, de uma mais-valia, pois capacita para a utilização das TS, especificamente a IA, de modo a melhorar o processo de tomada de decisão de Enfermagem, assim como melhorar o processo de ensino e aprendizagem na educação em Enfermagem.

Um dos objetivos é capacitar os profissionais para gerir cuidados e tomar decisões com base em IA. Pode dar-nos um exemplo concreto, um 'dia na vida' de um enfermeiro que tenha concluído este curso, e como a IA muda a sua rotina de trabalho?
A IA está a redefinir não apenas a Enfermagem, mas também o ensino da Enfermagem. Se a IA na saúde pode libertar um enfermeiro de tarefas repetitivas e burocráticas, permitindo-lhe que se concentre na pessoa, no ensino ela permite que o professor centre a sua ação no estudante. A IA não substitui o professor, ela pode contribuir para a personalização da educação, de forma estratégica e eficaz.
Um cenário simples pode ilustrar esta mudança/transformação. Pensem numa professora dedicada ao ensino da investigação na ESEUC. Até há pouco tempo as suas rotinas passavam por tarefas repetitivas e capazes de criar exaustão, como as sessões letivas/aulas, corrigir provas e trabalhos, e tentar identificar as dificuldades de cada estudante no processo de aprendizagem, muitas vezes sem tempo para fazer.
A sua energia e investimento são consumidos pela necessidade de gerir o tempo, processos burocráticos, limitando o tempo que podia gastar com alguns estudantes com necessidades. A IA pode ajudar, não só a acompanhar os estudantes e identificar aqueles com dificuldades e lacunas em determinados conteúdos das unidades curriculares, como pode, através de uma plataforma de aprendizagem adaptativa, analisar o desempenho de cada aluno em tempo real.
A informatização dos processos de avaliação pode, com o auxílio da IA, analisar o desempenho do estudante em tempo real. A análise das questões com IA pode, inclusive, encontrar padrões de respostas, erros que decorrem de dificuldades de aprendizagem ou mesmo de deficits nos materiais fornecidos. Por exemplo, se a dificuldade for na construção de um objetivo de investigação, a IA pode dar a informação à professora de forma imediata e no mesmo espaço ela pode, rapidamente, ajustar os conteúdos de modo a garantir a aprendizagem. O estudante pode receber feedback de forma também imediata, de modo a garantir a aprendizagem.
A IA pode mesmo ajudar o professor a criar percursos de aprendizagem personalizados para cada estudante. A IA pode sugerir a realização de exercícios adicionais para os estudantes com dificuldades e tarefas mais avançadas para aqueles que dominam os temas. A IA pode ser como que um mentor personalizado. Nas tarefas administrativas, a IA pode automatizar a correção, por exemplo das frequências de escolha múltipla, deixando tempo para o planeamento de aulas criativas, interativas e capazes de envolverem os estudantes.
Por último, a IA pode ajudar o professor a encontrar recursos didáticos relevantes permitindo também a análise do conteúdo das aulas. Isto é, de facto, um passo gigante em termos de práticas pedagógicas.
Mas atenção! A IA não substitui a interação humana, o incentivo ao pensamento crítico, a orientação individual do estudante e a construção de relações significativas com os estudantes. A tecnologia não deve substituir a nossa vocação, ela fortalece-a.

O curso aborda a integração de IA generativa no ensino e questões ético-legais. Como é que o curso prepara os alunos para os desafios e dilemas morais que a IA traz para a área da saúde e como é que isso se reflete na estrutura modular?
A pós-graduação prepara os formandos para os desafios e problemas éticos associados à utilização da IA na área do ensino e da saúde. Isso é feito através de uma estrutura modular que integra conhecimentos práticos com uma forte componente ética. O curso capacita os formandos para utilizar a IA na educação e na prática clínica, com o objetivo de gerir cuidados e tomar decisões baseadas nessa tecnologia.
A estrutura do curso reflete também essa preocupação ao incluir um módulo específico sobre ética e IA, dedicado a "Questões éticas do uso da IA", e abordagens práticas da tomada de decisão que permitem aos formandos interpretar algoritmos de previsão e a usar seus resultados para apoiar a tomada de decisões clínicas, incentivando a avaliação crítica da informação disponível.
Essa capacidade de análise crítica é essencial para que os formandos não aceitem as recomendações da IA cegamente, mas sim as questionem e as utilizem de forma informada.
A combinação destes módulos permite que os formandos não estejam apenas capacitados para usar a tecnologia, mas também estejam preparados para lidar com os complexos desafios éticos e legais que ela apresenta.

Existe uma vasta oferta de formação em tecnologias digitais. O que distingue esta pós-graduação de outras no mercado, especialmente considerando o foco específico na Enfermagem e na sua integração com a IA?"
O curso de pós-graduação distingue-se das outras ofertas formativas pela sua abordagem, que é direcionada e especializada, o que a separa, desde logo, das ofertas mais genéricas em saúde digital ou IA que estão disponíveis no mercado.
A principal diferença reside no seu foco no contexto da Enfermagem, quer da prestação de cuidados, quer do ensino, enquanto outras formações ou são muito amplas e genéricas, ou então demasiado específicas. Daí que se destine a professores, onde o foco se centra na aplicação direta no ensino e investigação, e a enfermeiros, em que o foco se centra na prática e gestão de cuidados.

O curso é destinado a professores da ESEUC, embora outros profissionais possam ser admitidos excecionalmente, correto?
Sim, na 1.ª edição serão destinadas 20 vagas para professores de carreira da ESEUC e 10 vagas para enfermeiros, podendo candidatar-se também os assistentes convidados. Na 2.ª edição a divisão das vagas será equitativa, com 15 vagas para cada grupo.
 
 
[2025-09-09]
 
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Entrevista conduzida por Renata Accioly Uchôa (em estágio na ESEUC)
 



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