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Adolescentes em lares de infância e juventude apresentam boa qualidade de vida relacionada com a saúde, revela estudo da docente Ana Perdigão

 

Apesar de, por vezes, «considerados ambientes de risco», os lares de infância e juventude que, em Portugal, acolhem adolescentes em contexto de institucionalização «também possuem organização e estrutura favorecedoras do desenvolvimento humano e da promoção de bons níveis de qualidade de vida relacionada com a saúde».

 

 Ana Perdigão entrevistou 390 adolescentes a residir em 21 lares de infância e juventude

 

A conclusão é de um estudo de doutoramento, desenvolvido pela professora da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), Ana Maria Pacheco Mendes Perdigão da Costa Gonçalves, em que participaram 390 adolescentes (entre os 10 e os 18 anos de idade) a residir em 21 lares de infância e juventude situados de norte a sul do país.

De acordo com os resultados obtidos, através de entrevista pessoal e do preenchimento de três questionários – Kidscreen-52, Resiliance Scale e um questionário sociodemográfico, de saúde e de hábitos de vida (o período de recolha de dados foi entre abril de 2015 e novembro de 2016) –, a qualidade de vida relacionada com a saúde (QVRS) naqueles adolescentes é «globalmente boa».

Ainda assim, no âmbito deste estudo, intitulado “Qualidade de vida relacionada com a saúde dos adolescentes residentes em lares de infância e juventude em Portugal”, Ana Perdigão identificou «diferenças significativas» na QVRS destes jovens, em função de variáveis como o género, idade, índice de massa corporal, frequência de ida ao centro de saúde, presença de doença aguda, doença crónica e o sono.

 

Rapazes com mais qualidade de vida relacionada com a saúde…

Assim, os rapazes mostraram mais qualidade de vida relacionada com a saúde do que as raparigas, o que, explica a docente da ESEnfC, pode estar relacionado, «segundo a literatura, com a ocorrência de maiores transformações físicas, hormonais e até culturais, estas sobretudo a nível da autoperceção e imagem corporal, nas raparigas».

Quanto à idade, foram os mais novos que evidenciarem melhor QVRS, o que, diz Ana Perdigão, se percebe, também de acordo com alguns autores, porque o «bem-estar físico, e em particular o bem-estar mental, parece deteriorar-se com o avançar da idade e, mais ainda, nas raparigas do que nos rapazes».

A QVRS é, também, melhor quando o índice de massa corporal é ideal, quando a ida ao centro de saúde é feita com regularidade, quando não existe doença respiratória, gastrointestinal ou alérgica (aqui a QVRS é mais elevada também nos rapazes) e quando não existe doença crónica do foro psíquico.

Por outro lado, a qualidade de sono afeta mais dimensões da QVRS nas raparigas do que nos rapazes.

A QVRS destes adolescentes melhora, ainda, quando não existem hábitos nocivos para a saúde, como o tabaco e o álcool, quando se promovem bons hábitos ao nível da prática desportiva e de atividade física, de leitura, de estudo e de acesso à informação digital.

 

… e também mais resilientes do que as raparigas

O estudo de Ana Perdigão permitiu, também, identificar que, quanto mais resilientes estes adolescentes são – e os resultados mostraram que os rapazes são significativamente mais resilientes do que as raparigas –, mais QVRS apresentam.

«Talvez o efeito protetor que a resposta social oferece esteja relacionado com um maior desenvolvimento da capacidade de enfrentar as adversidades, promovendo caraterísticas de resiliência e desenvolvimento adaptativo nos rapazes», admite a docente da ESEnfC.

Em função dos resultados obtidos, e de aspetos que emergiram do contato pessoal com estes adolescentes, no estudo de doutoramento que Ana Perdigão defendeu, em setembro último, no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto, poderá, agora, investir-se mais em áreas como a promoção e vigilância da saúde sexual e reprodutiva, a qualidade do sono, a promoção da saúde mental, ou a prevenção de consumos. Ou, ainda, em intervenções especializadas direcionadas às famílias, que privilegiem a promoção da parentalidade positiva, em acolhimentos tão curtos quanto possível das crianças e adolescentes, na implementação e criação de programas de promoção da saúde e prevenção de comportamentos de risco em ambientes promotores de saúde, tendo em conta a  privacidade e uma comunicação aberta e transparente, privilegiando o recurso às  plataformas digitais, sugere a professora da ESEnfC, agora doutorada em Ciências de Enfermagem.

 

[2020-11-27]

 


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